Professores, pesquisadores, profissionais e interessados em informações e discussões de assuntos relacionados ao setor elétrico, ao mercado de energia elétrica e aos aspectos profissionais da engenharia.

ÚLTIMAS

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eficiência energética

 Brasil teve um aumento no consumo de energia elétrica de 8,5% de janeiro a outubro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Os valores, apurados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), chegam a um acumulado de 347,5 mil GWh, sendo a indústria responsável por 43,9% desse montante. É um crescimento substancial, mesmo considerando a queda de produção em 2008/2009 por causa da crise econômica mundial.

Nesse cenário, um estudo feito no ano passado pela Confederação Nacional da Indústria levanta questionamentos. Os dados da CNI apontam um potencial técnico de redução de 25,7% no consumo de energia nas plantas industriais brasileiras. Ou seja, muitas empresas parecem preferir deixar as instalações antigas como estão a investir em processos e equipamentos de maior eficiência energética, mesmo que paguem mais por isso. Em outras palavras, desperdiçam energia e repassam o custo ao consumidor final, causando ainda desnecessário impacto ambiental.

A falta de interesse corporativo parece mais clara ao se considerar que o Brasil não tem números consolidados de investimento em tecnologias limpas, enquanto nos Estados Unidos, Europa, Israel, China e Índia, de acordo com a Cleantech 2009, tais recursos foram elevados da ordem de US$ 500 milhões, em 2001, para US$ 4,5 bilhões, em 2006, e US$ 8,4 bilhões, em 2008.

Indicadores brasileiros. Alguns indicadores brasileiros foram levantados no ano passado pela empresa americana Johnson Controls. O 4.º Indicador Anual de Eficiência Energética apontou que 97,5% dos mais de 100 executivos brasileiros entrevistados que estão construindo, planejando ou fazendo reformas e adaptações identificaram o assunto como prioridade - a maioria eram CEOs, gerentes gerais ou diretores de instalações.

Segundo os estudos da empresa, 55% dos líderes de negócios estão prestando mais atenção ao tema; 57% deles responderam que o gerenciamento de energia é extremamente ou muito importante; 47% buscam certificação; 41% planejam incorporar elementos verdes sem certificação; 54% acham que haverá obrigatoriedade de eficiência energética em legislação até 2012. Além disso, o levantamento mostrou que os gargalos percebidos por esses executivos brasileiros para que suas empresas possam se tornar eficientes nesse quesito são as incertezas econômicas e a falta de incentivos e de regulamentação.

Observando em grande escala, dados do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) indicam que uma média de 62% da energia consumida na indústria brasileira é empregada em equipamentos de força motriz, o que nos coloca frente a outro problema, uma vez que a eficiência média de um motor e bomba de um sistema motriz é de apenas 59%.

Políticas públicas. Mas não apenas as decisões individuais das grandes consumidoras de energia afetam a eficiência energética brasileira. A falta de políticas públicas que incentivem a adoção de práticas mais sustentáveis também é algo que merece atenção. E, apesar de todas as expectativas criadas em torno dos potenciais de exploração do Pré-Sal, é de extrema importância que a maior disponibilidade de combustíveis fósseis não limite a busca por fontes limpas de energia.

A própria Petrobrás parece compreender isso e desenvolveu o Plano Estratégico 2020, com metas de eficiência energética bem específicas em diferentes frentes. Um dos principais pontos foi a criação de 48 comissões internas para conservação de energia, além de cursos de eficiência energética para as forças internas de trabalho e a realização de seminários a cada dois anos, premiando os melhores resultados. Comissões instaladas nas unidades de produção auxiliam na propagação dessa cultura para os funcionários.

Outro ponto positivo que podemos destacar é o Plano Nacional de Energia (PNE 2030), que prevê iniciativas sustentáveis para atender à demanda elétrica brasileira nos próximos 20 anos e considera, por exemplo, que 10% dessa demanda deverá ser atendida por ações de eficiência energética, incluindo programas autônomos. O estímulo à adequação da infraestrutura da planta industrial brasileira é o primeiro passo para a mudança de paradigma necessária junto aos executivos, que devem deixar de lado o antigo conceito de que sustentabilidade e progresso não são compatíveis.

Não se sabe se o mais difícil é implantar novos processos de fato, com ou sem políticas públicas de incentivo, ou mudar a cultura organizacional brasileira de uma forma geral - pois o mais comum é pensar em eficiência energética como custo e não como investimento em longo prazo. Certamente instalar novos componentes e fazer adaptações requer dinheiro, mas o que é preciso fomentar é a noção de que esse dinheiro tem retorno em poucos anos e gera benefício por um longo período.

O conceito parece óbvio, e realmente é, mas quando muitos tomadores de decisões estratégicas fecham os olhos para o mesmo assunto, a obviedade do fato perde a relevância. Ou a maior parte do empresariado brasileiro dá a devida atenção ao que está ocorrendo no mundo ou vai ficar para trás, de olhos fechados.

VICE-PRESIDENTE DA DIVISÃO DE POWER ELECTRONICS DA DANFOSS AMÉRICA LATINA

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101213/not_imp652979,0.php

About ""

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Vivamus suscipit, augue quis mattis gravida, est dolor elementum felis, sed vehicula metus quam a mi. Praesent dolor felis, consectetur nec convallis vitae.
 
Copyright © 2013 Mercado de Energia Elétrica