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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Energia: vinte anos de retrocesso

Desde a década de 90, as emissões totais de poluentes globais do País caíram 15%, resultado de alterações no uso da terra, em especial da redução do desmatamento na Amazônia, que chegou a representar mais de dois terços do problema e caiu para um terço. O setor de energia seguiu na contramão, com um acréscimo de 103% nas emissões. Quando são consideradas as líquidas, a energia tornou-se a principal fonte de gases de efeito estufa no Brasil, com 39% das emissões, seguida da agropecuária, com 36%. Entre 1970 e 2013, houve um crescimento de quase 300% nas, segundo relatório recente do Observatório do Clima.

 

A alta é explicada pelo uso intensivo das rodovias, modal altamente dependente de gasolina e diesel, e o aumento da geração das térmicas a gás natural e a óleo combustível. Isso colocará pressão sobre o segmento para reduzir suas emissões ao longo dos próximos anos e deverá elevar a busca por eficiência energética. “O Brasil tem trabalhado a redução das emissões, mas a maior contribuição veio do desmatamento e não deverá se repetir. Nessa situação, a eficiência energética poderá se tornar um fator importante”, destacou Tania Cosentino, presidente para a América do Sul da Schneider Electric.

 

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No fim da década de 1990, sob a ameaça do racionamento de energia que seria decretado em junho de 2001, o governo decidiu investir em termoelétricas para aumentar a segurança do sistema. “A partir daí elas ganharam relevância e chegaram a responder por até 30% da geração. As emissões cresceram, com uma matriz mais dependente das chuvas. Mas, se é ruim com elas, seria pior sem elas”, afirmou a executiva.

 

Além de redesenhar a sua matriz com foco nas energias renováveis, o Brasil precisa se dedicar ao aumento da eficiência. “Hoje cerca de 30% da matriz é intensiva em carbono e o Brasil aproveita apenas 30% daquilo que poderia em eficiência energética, uma indicação do potencial a ser desenvolvido.” Por ano, o País desperdiça o consumo gerado por meia Usina Hidrelétrica de Itaipu, uma das três maiores do mundo. O custo de investir em eficiência seria de 50 reais o megawatt-hora, um terço do valor aplicado em hidrelétricas e um sexto do investido na construção de uma usina termoelétrica.

 

Segundo o presidente da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, José Carlos de Miranda Farias, haverá uma nova oportunidade de melhorar a composição da matriz em meados da próxima década, quando os contratos das termoelétricas a óleo combustível para o mercado cativo expirarão. Poluentes e caras, as térmicas poderão ser substituídas por usinas a gás natural fornecido pelas reservas da camada do pré-sal. A Chesf, uma das maiores geradoras, com cerca de 10 mil megawatts de capacidade, receberá um reforço significativo à sua capacidade de investimento com a criação do Fundo de Energia para o Nordeste, estruturado a partir da renegociação de contratos de grandes consumidores. “Cerca de 28 bilhões de reais poderão ser direcionados para projetos com foco em energia renovável e metade do montante terá de ser aplicado no Nordeste”, destacou o presidente da empresa, que estuda investimentos em parques eólicos, térmicas a biomassa e hidrelétricas.

 

Uma das possibilidades de aumento da eficiência e melhor gestão de energia é a adoção das redes inteligentes, experiência incipiente no Brasil, mas bastante desenvolvida nos Estados Unidos, Europa e China. Os investimentos na área poderiam contribuir para a criação de um polo industrial dinâmico, em uma repetição do êxito do setor eólico, e a atração de investimentos para abastecer o mercado interno e exportar equipamentos.

 

A adoção das redes inteligentes significará também uma revolução no papel do consumidor que, além de optar por tarifas diferenciadas, poderá gerar energia em sua residência e obter créditos no sistema. As redes permitirão que as máquinas e equipamentos “conversem” entre si, em busca de eficiência. Também possibilitará ao usuário avaliar o consumo de cada eletrodoméstico em tempo real. Haverá tarifas diferenciadas por horário e o cidadão terá a possibilidade de gerenciar o horário de funcionamento dos aparelhos elétricos e aproveitar a energia mais barata ofertada na madrugada.

 

No mundo, as redes inteligentes avançam. Nos Estados Unidos, 43% das unidades consumidoras operam com medidores inteligentes e, na Califórnia, todos os medidores instalados são bidirecionais, leem o consumo e indicam se o cliente gera energia com seu painel fotovoltaico. Na China, com investimentos de 45 bilhões de dólares programados até 2016 pela estatal State Grid, 80% das unidades consumidoras deverão ter medidores inteligentes, afirmou Sergio Jacobsen, gerente-geral de serviços e soluções para smart grids da Siemens no Brasil.

 

“No Brasil, 6% da energia gerada é desperdiçada, o equivalente a toda a energia dos parques eólicos e das duas nucleares. Com um sistema mais dependente das usinas a fio d’água, a gestão do consumo ganha importância. A renovação das concessões de distribuição, que agora terão metas de qualidade mais rígidas, pode ser um direcionador do processo.” O Brasil, acredita o executivo, pode repetir o sucesso da energia eólica e criar uma indústria local de equipamentos para redes inteligentes, com mercado amplo. “A desvalorização cambial trouxe competitividade para exportarmos as soluções também.”

 

O mercado é promissor. No Brasil existem hoje cerca de 80 milhões de medidores. Menos de 5% são inteligentes. Em 2020, o nicho poderá movimentar 1,3 bilhão de reais. Para as redes saírem do papel, será preciso trocar esses dispositivos e criar condições para as concessionárias investirem em sistemas de comunicação que “dialoguem” com os medidores e contenham tecnologias facilitadoras da gestão remota das redes. “Falta um sinal claro de preço para as concessionárias investirem e terem o retorno adequado.”

http://www.cartacapital.com.br/revista/866/vinte-anos-de-retrocesso-916.html

 

Atenciosamente

 

Alexandre Kellermann

Alexandre.kellermann@gmail.com

 

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