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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Estamos por um fio do racionamento de energia

A situação é crítica nos reservatórios e a bandeira chegou a R$ 5. Vamos ter racionamento?

A situação do setor elétrico brasileiro é crítica e uma grande ameaça para a retomada da economia. Em 2018, alguns economistas já projetam um crescimento do PIB de mais de 3%, um cenário favorável, mas que pode não se materializar simplesmente pela falta de energia. O risco de racionamento de energia não tem merecido a devida atenção e vem sendo subestimado pelo Governo e por analistas.

Para contribuir com o debate, o Economia em 5 Minutos separou uma série de pontos que demonstram a gravidade da situação e que divergem do discurso otimista do Governo, que descarta qualquer risco de racionamento, e as medidas que ele mesmo vem adotando no setor.

 

O nível dos reservatórios está muito abaixo do patamar de 2001, ano do racionamento de energia.

Para entender melhor esse quadro, é preciso saber como funciona o sistema de transmissão de energia.  Em 2000, o sistema ainda não era totalmente interligado nacionalmente e na interligação Sul com o Sudeste/Centro-Oeste havia restrições que impediam a energia acumulada nos reservatórios do Sul fosse transmitida para ajudar a preservar os reservatórios do Sudeste. Essa restrição já não existe mais o que faz com que os reservatórios do Sul estejam com menos armazenamento agora do que em 2000, quando estavam quase na capacidade máxima.

 

As térmicas já se aproximam do recorde de geração de energia

O país só não enfrenta há meses um racionamento porque hoje possui um parque de térmicas bem maior que em 2001. Essas usinas geram energia por meio da queima de combustíveis como óleo, gás natural e biomassa, substituindo boa parte da produção das hidrelétricas e contribuindo para poupar água dos reservatórios.

Nos últimos meses, o país tem mantido funcionando todas as térmicas disponíveis, num esforço para economizar água das hidrelétricas. Entretanto, isso vem contribuindo para os altos reajustes nas contas de luz, já que a energia produzida por esse tipo de usina é mais cara.

Em setembro a geração de energia por térmicas se aproximou do patamar histórico de 2015, ano de grande seca nos reservatórios, mas de grande recessão, o que reduziu o consumo de energia na época. Diferente da situação atual de retomada da economia, com uma previsão de maior demanda à frente.

 

Governo vai antecipar a entrada de energia de Belo Monte?

A entrada no sistema, de mais energia gerada pela usina Belo Monte, foi antecipada de março de 2018 para janeiro.

 

As importações de energia vão aumentar

O diretor-geral da ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz Eduardo Barata, explicou que o Brasil pretende iniciar nesta semana a importação de mil megawatts (MW) da Argentina. O país já vinha comprando energia do Uruguai, num volume entre 450 e 500 megawatts (MW), a preços compatíveis aos da geração de energia termelétrica.

 

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) passa a fazer reuniões semanais

No último dia 25 de outubro o CMSE decidiu fazer reuniões semanais para analisar as condições de fornecimento de energia no país. A próxima reunião ordinária do colegiado, que estava marcada para o dia 9 de novembro, será antecipada para o dia 1º de novembro. As reuniões ocorriam uma vez por mês.

 

Campanha para uso consciente da energia

As distribuidoras de energia elétrica vão lançar em novembro uma campanha publicitária conjunta para orientar e estimular o consumidor a usar a energia elétrica de forma eficiente e evitar desperdícios.

 

O aumento da cobrança da bandeira tarifária ainda não cobre os custos das distribuidoras

O aumento de mais de 42% na taxa extra da bandeira vermelha patamar 2, mesmo com essa receita adicional, não será suficiente para cobrir os custos das distribuidoras segundo o presidente do Instituto Acende Brasil, Cláudio Sales.

De acordo com Sales, o déficit na conta bandeira (valor arrecadado menor que o custo de geração) está em torno de R$ 6 bilhões neste ano. Mas mesmo com a cobrança extra, que elevará a bandeira vermelha ao seu maior patamar, estima-se que o saldo negativo seja reduzido em cerca de R$ 1 bilhão, restando um déficit contábil de R$ 5 bilhões às distribuidoras em dezembro.

Já o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, afirmou que o déficit de R$ 6 bilhões equivale ao dobro do lucro líquido que as empresas devem obter esse ano. Ele pediu a prorrogação do prazo de pagamento pela energia das térmicas para que as distribuidoras possam arrecadar mais com a nova tarifa de bandeira vermelha e com isso minimizar um pouco o rombo no caixa das empresas.

As distribuidoras devem pagar as térmicas em 8 e 9 de novembro, quando a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) realizará a liquidação das operações do mercado de energia referentes a setembro.

Portanto, assim como em 2012, o risco de um aumento de tarifa extraordinário é cada vez maior e iminente.

Os anúncios de racionamento nunca ocorrem antes de abril

Historicamente, não se toma qualquer decisão sobre racionamento até o fim do período de chuvas em abril e que pode recuperar o nível dos reservatórios. Em 2001, o racionamento foi decretado em junho, quando se definiu um limite de consumo de energia em 80% de uma média de consumo mensal definida um período de meses no ano anterior. Os consumos superiores a este nível estariam sujeitos a um valor maior nas tarifas e corte de energia.

 

O que esperar no curto prazo?

Prepare o bolso, a tarifa de energia vai subir ainda mais e o risco de racionamento no futuro não pode ser desprezado, portanto vamos economizar o máximo possível e torcer pelas chuvas.

 

Mas, há luz no fim do túnel?

Sim, mas precisamos de um plano de médio e de longo prazo que garanta uma oferta sustentável de energia, em um ambiente competitivo e estímulo a projetos de eficiência energética.

Em um país de dimensões continentais e com tamanha incidência solar não podemos aceitar que apenas 0,05% da nossa matriz seja constituída por fontes solares e 6,5% por eólica.

E além das tradicionais fontes eficientes como eólica e solar, temos que abrir os olhos para uma série de soluções inovadoras que podem contribuir para o aumento da oferta de energia. De acordo com o engenheiro ambiental Gabriel Estevam Domingos, diretor de projetos e inovação do grupo Ambipar, há uma série de outras soluções como a utilização de resíduos para produzir energia a um custo econômico e ambiental mais acessível. Um exemplo é o uso de bioenergia de sedimentos, o chamado micróbio elétrico. Os resíduos retirados da dragagem dos portos durante o aprofundamento do canal de navegação possuem alto potencial elétrico. Formado por restos de areia de matéria orgânica, conchas, pedras, essa lama contém altas concentrações de uma bactéria conhecida como micróbio elétrico, que se alimenta de restos de peixes, algas e vegetais que estão na lama. No final da refeição, essa bactéria produz energia elétrica, liberada no meio-ambiente em forma de pequenas partículas chamadas de elétrons.  Segundo Domingos, a descoberta foi feita pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG-RS) em 2010 e já foi testada por ele no Porto de Santos-SP, região com maior acúmulo de sedimentos com estas características.

Portanto, o Brasil tem muitas opções e oportunidades para o setor, mas precisa   sair da miopia do curto prazo e planejar a longo prazo, além do calendário político.

 

 

 

http://noticias.r7.com/blogs/economia-em-cinco-minutos/2017/10/31/estamos-por-um-fio-do-racionamento-de-energia/

 

 

Atenciosamente

 

Alexandre Kellermann

 

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