Diversificação de projetos no setor ganha espaço em grupos como Odebrecht e Camargo Corrêa Taís Hirata SÃO PAULO
Em meio ao marasmo nas obras de infraestrutura no Brasil, às incertezas políticas e à crise fiscal generalizada que limitou os investimentos públicos, o setor de energia elétrica se tornou uma das principais --e poucas-- fontes de negócios para construtoras e indústrias. Empresas atingidas pela Operação Lava Jato, como a Odebrecht e a Camargo Corrêa, estão entre elas. As companhias já atuavam no setor, principalmente construindo grandes hidrelétricas, e agora querem expandir sua presença a outros segmentos. "Sempre tivemos um foco na área de energia e agora reforçamos ainda mais. É um setor que se descolou [da situação] do restante do país", afirma Antonio Augusto Santos, gerente responsável pela área na Odebrecht Engenharia e Construção. Hoje, a construtora tem R$ 4 bilhões de contratos em prospecção para os próximos três anos no Brasil, em diferentes segmentos de energia, desde usinas solares e eólicas até linhas de transmissão, diz ele. Na Camargo Corrêa Infra, braço criado pelo grupo para os negócios pós-Lava Jato, 70% da carteira hoje é formada por projetos de geração e transmissão de energia. "[A porcentagem alta] É resultado da falta de projetos em outras áreas. É um retrato da infraestrutura hoje", diz Robson Campos, diretor-executivo financeiro, comercial e de novos negócios da empresa. "Dentro de infraestrutura, o setor de energia é o mais bem regulado e com legislação mais estável", afirma. No caso da Camargo Corrêa, o foco serão as linhas de transmissão e as usinas térmicas movidas a gás natural, que envolvem obras mais complexas (e, portanto, mais atrativas à empresa) do que usinas eólicas e solares. "A geração termelétrica vai continuar crescendo. A produção vai triplicar com o gás offshore das áreas de exploração do pré-sal, e vamos ter de fazer alguma coisa com esse gás", afirma Campos. Ele ressalta a importância desse tipo de usina para dar segurança energética ao país. As grandes usinas hidrelétricas --tipo de obra em que as duas construtoras se especializaram nos últimos anos-- estão em baixa no país. Com uma crescente dificuldade em aprovar o licenciamento ambiental desses empreendimentos, esses projetos foram praticamente abandonados nos últimos dois anos, e não há, no curto prazo, perspectiva de novas obras. Ainda assim, as companhias dizem que continuam de olho em oportunidades. No caso da Odebrecht, o segmento continua uma fonte relevante de negócios fora do Brasil, com obras em países como Tanzânia e Angola. Outro grande grupo que decidiu ampliar investimentos na área é a Votorantim. Suas atividades mais tradicionais, como mineração, produção de alumínio e cimento, ainda representam mais de 90% da geração de caixa. A empresa tem como meta ampliar os negócios menos expostos a variações de câmbio e preços de matérias-primas. Nessa estratégia, o setor elétrico é uma aposta do grupo, que firmou parceria com um fundo de pensão canadense, Canada Pension Plan Investment Board, para fazer, no longo prazo, investimentos de R$ 3 bilhões em geração, principalmente eólica. Atualmente, praticamente todo o parque da companhia vai para o mercado livre (em que consumidores negociam contratos de compra e venda com os geradores). O diretor-presidente da empresa, João Miranda, no entanto, manifestou interesse em participar de leilões no mercado regulado (em que as distribuidoras contratam a usina por um prazo longo). Companhias menores de infraestrutura e financeiras também migraram para o setor, principalmente em segmentos de comercialização no mercado livre e de geração distribuída (em que a energia é gerada pelo próprio consumidor), afirma Raphael Gomes, sócio de energia do Demarest. "São setores mais simples, que não exigem um grande esforço de operação", diz. O mercado de energia é apontado como uma área que sofreu menos com a crise econômica e está mais imune à transição presidencial. Isso se reflete no calendário de leilões. Apesar do ano eleitoral, o país viu uma série de contratações de novos empreendimentos neste ano, e ainda há a previsão de um grande certame de linhas de transmissão, no fim de dezembro. "Não prevejo uma mudança, uma ruptura, no futuro próximo. O setor de energia já tem uma regulação sólida e bem estruturada", afirma Karin Luchesi, vice-presidente da CPFL Soluções. O otimismo, porém, não quer dizer que o setor vive seus melhores dias, diz Gomes, sócio do Demarest. "No meio do marasmo, é uma marolinha", afirma. Entraves e pendências que ficam para 2019 são grandes. Um deles é o novo marco do setor elétrico, enviado ao Congresso. "O projeto é fundamental. Traz uma segurança maior e tende a acelerar os investimentos do setor privado na área de energia", diz Santos, da Odebrecht. Há também uma grave briga judicial em torno do chamado risco hidrológico, cuja solução é considerada prioridade. A disputa começou em 2014 e, até hoje, deixou quase R$ 8 bilhões de pagamentos de compra e venda de energia em aberto. O motivo são as liminares obtidas por geradoras hidrelétricas para não arcar com os custos provocados pelo baixo nível dos reservatórios. Isso significa que uma série de geradores de outras fontes, que tem compensado a baixa geração hidrelétrica, não estão recebendo pagamento.
Sandro Geraldo Bagattoli
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