Do total de água doce do mundo disponível, o Brasil detém cerca de 12% das reservas à sua disposição, o que lhe confere uma posição vantajosa de produção de energia renovável através de hidrelétricas. Todavia, a participação proporcional das hidrelétricas na matriz elétrica brasileira vem reduzindo desde a década de 1990, quando correspondia a 90% da produção elétrica brasileira. Atualmente, esse percentual é de 46% e, nos próximos 15 anos, é esperado que esteja em 32%.
Para a presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs), Alessandra Torres, essa redução pode gerar uma matriz elétrica mais frágil, em termos de flexibilidade, confiabilidade e serviços ancilares. Ela ressaltou que, embora a diversificação das fontes de energia seja positiva, é preciso equilíbrio, especialmente ao considerar a capacidade de armazenamento das hidrelétricas e o caráter intermitente das usinas solares e eólicas.
A discussão acerca da energia hidráulica ocorreu durante o Energy Summit 2025, realizado no final de junho, no Rio de Janeiro. O debate contou também com Franco Vernazza, fundador da Aquapower, uma startup que utiliza redes hidráulicas já existentes para produzir energia (veja mais a seguir).
A espinha dorsal do setor elétrico
Para os debatedores, um dos principais benefícios das usinas hidrelétricas é a segurança energética, uma vez que elas geram e armazenam energia. Somado a isso, elas proporcionam flexibilidade de produção durante períodos de maior demanda, e isso as torna mais confiáveis no suprimento e estabilização do sistema. Para a manutenção dessa característica, Alessandra afirmou que “não se pode mais adiar o planejamento de hidrelétricas com reservatórios de todos os portes, ainda mais em um contexto de mudanças climáticas. “Precisamos construir reservatórios e isso não é impactar [o meio ambiente], é criar disponibilidade hídrica”.
O argumento usado pela presidente da ABRAPCH é de que um “discurso ambientalista míope” acerca das hidrelétricas deixa de considerar tanto as problemáticas de outras fontes – como a solar – quanto os benefícios da produção de energia através de recursos hídricos. Dentre os benefícios listados estão:
- Consumo nulo de água: as hidrelétricas são a única fonte que não consome uma gota de água dentre todos os usuários da bacia. Elas apenas turbinam e devolvem a água mais limpa e oxigenada.
- Geração de serviços ancilares: são serviços complementares a geração de energia e são agrupados em três categorias: controle de frequência, controle de tensão e serviços emergenciais.
- Multiuso dos reservatórios: a construção de reservatórios vai além da geração de energia, abrangendo abastecimento de água, navegação, piscicultura, turismo e manutenção dos lençóis freáticos. Eles também mitigam eventos climáticos extremos, como secas prolongadas ou grandes inundações.
- Geração de renda e empregos: o desenvolvimento de pequenas hidrelétricas (PCHs), por exemplo, poderia abarcar aproximadamente 3.000 municípios, gerar 1 milhão de empregos e R$100 bilhões em investimentos privados.
Nova solução para um antigo problema
A Aquapower inovou ao se valer da infraestrutura hidráulica já existente abaixo do solo, como tubulações de água em cidades ou plantas industriais, para gerar energia elétrica. Para isso, a tecnologia trabalha em locais onde há excedente de pressão da água, como em redes de distribuição que utilizam válvulas reguladoras de pressão (VRPs). Em vez de dissipar essa energia mecanicamente, como as VRPs fazem, a Aquapower transforma essa pressão em eletricidade através do fluxo de água.
A inovação se dá também na forma encontrada para tornar o processo mais eficiente, com custos reduzidos, baixa manutenção, maior facilidade na reposição de peças e maior familiaridade do público com os equipamentos. A startup não fabrica turbinas do zero, mas compra bombas centrífugas tradicionais e as modifica para funcionarem em modo reverso como turbinas. Uma bomba normal recebe água por uma entrada e a impulsiona para cima, no modo reverso, a água entra por cima, gira o rotor conectado a um gerador, e isso produz eletricidade.
Com uma faixa de potência de até 75 kW, a energia pode ser entregue na rede da concessionária ou armazenada em baterias. Além de atender corporações, a tecnologia visa solucionar a dificuldade de energizar pontos de difícil acesso. Nesses casos, com pequenas turbinas gerando até 20W, é possível armazenar energia suficiente em baterias e alimentar dispositivos sem necessidade de obras ou solicitações de energia à concessionária.
Essa abordagem, segundo a empresa, permite gerar eletricidade limpa de forma distribuída e em linha com as metas de descarbonização e os compromissos ESG de empresas e municípios.
https://www.alemdaenergia.engie.com.br/brasil-precisa-se-reconectar-as-hidreletricas/
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