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sexta-feira, 28 de maio de 2010

O que está por vir

A energia renovável é geralmente definida como aquela gerada a partir de vários recursos naturais e, entre os mais citados, estão o sol e o vento. Estas fontes de geração de energia são boas, tanto para os seres humanos como para a Terra, por isso precisam ser incentivadas. No entanto, muitos acreditam sinceramente que o seu uso poderia “salvar o Planeta”. Conceitualmente, é preciso que se esclareça que a energia não pode ser separada entre renovável e não renovável. A Primeira Lei da Termodinâmica, uma das três grandes leis do Universo, declara que a “energia é sempre conservada”; não menciona nada sobre ser ou não renovável. Este adjetivo é empregado como um julgamento de valor humano: não tem base científica. Neste Universo a energia não pode ser renovada: tudo que podemos fazer é pegá-la, utilizá-la degradando-a e sermos gratos a ela por estar disponível.

As ditas “energias renováveis”, em decorrência de suas características, não são capazes de satisfazer nossa crescente necessidade energética. Hoje a população é essencialmente urbana e poucos dos que moram na cidade algum dia irão até o poço puxar água ou até a horta arrancar batatas da terra para comer. Quase como um superorganismo, as cidades crescem. Como raízes de uma árvore, suas redes de água, esgoto e seus cabos de comunicação se esparramam. Só percebemos a existência disso tudo quando algo de errado acontece. Manter tudo isso funcionando exige um sistema poderoso de regulação que sempre usa a eletricidade. Existe uma dependência total, principalmente do habitante da cidade, de um suprimento constante e invariável de eletricidade. Sem ela a cidade morre e morre rapidamente como se ficasse sem oxigênio. Sem ela como ficariam os sinais de trânsito, as geladeiras, as bombas que fornecem combustíveis, a iluminação das casas, das ruas, os elevadores dos edifícios altos, os supermercados, os computadores, os hospitais, o policiamento? Em uma semana Bauru iria se degenerar até chegar à condição de um acampamento lotado de refugiados esfomeados.

A luz solar pode ser diretamente convertida em eletricidade por células voltaicas - semi condutores que absorvem luz e emitem corrente elétrica aos fios conectados à célula. O material geralmente empregado é o silício e mais recentemente alguns elementos exóticos e raros como o gálio, índio, selênio e cádmio. Sua eficiência ainda é baixa, mas são de imenso valor para usos em pequena escala, como na recarga de baterias e no fornecimento de eletricidade para os satélites em órbita. Não é uma candidata séria para abastecer grandes consumidores.

Com coletores especiais é possível produzir vapor utilizando a luz solar e com ele gerar eletricidade em turbo geradores a vapor. A ausência de energia solar à noite poderia ser compensada com o uso de acumuladores de vapor. Há necessidade de alta insolação, grandes áreas de captação e por conta disto, um longo e caro sistema de distribuição até os centros urbanos.

Produzir um gigaWatt de energia elétrica a partir do vento requer 2.500 quilômetros quadrados de terra para a colocação das turbinas eólicas. É preciso considerar ainda que, em média, o vento sopra 25% do tempo à velocidade certa para girar a turbina. Portanto, parques eólicos precisariam do apoio de uma central térmica nuclear ou convencional movida a carvão, óleo ou gás.

Como ainda restam enormes reservas de carvão, consideráveis reservas de petróleo e gás natural e como, além disso, há quantidades ainda maiores de combustíveis menos eficientes, como areias de alcatrão, xisto e turfa, não nos iludamos: serão necessárias muitas décadas para que se possa lançar, em escala global, eletricidade abundante gerada a partir do Sol, dos ventos, das marés ou do calor geotérmico. Mas, infelizmente, alterações climáticas já estão acontecendo e não podemos nos dar ao luxo de esperar nem mais um pouco.

Atualmente sabe-se que ciclos climáticos são causados por variações periódicas e sutis na órbita e no campo magnético da Terra. Estas variações, entre outros motivos, acontecem pela atração gravitacional exercida pelos demais planetas, pela região do espaço ocupado pelo sistema solar e pela atividade do próprio Sol.

No último congresso que participei ouvi de um palestrante: o sistema climático é como um barco a remo; às vezes ele aderna um pouco e volta ao normal, depois aderna de novo e volta ao normal, mas, às vezes, ele aderna e só pára no outro estado de equilíbrio, quando fica virado de cabeça para baixo.

Boa parte do fracasso nos preparativos para enfrentar o que está por vir origina-se da incapacidade da maioria dos políticos que, muito raramente, priorizam o interesse da coletividade e mais raramente ainda são capazes de entender a mensagem de cientistas e engenheiros e separar a ciência genuína da alternativa.

O autor, Paulo César Razuk, é professor titular do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp - câmpus de Bauru

http://www.jcnet.com.br/detalhe_opiniao.php?codigo=184028

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