Responsável por 7,3% da energia elétrica gerada no ano passado, a fonte eólica vem aos poucos ganhando terreno na matriz brasileira. Desde o começo da década, a partir dos leilões do governo Federal, o setor já cresceu mais de 10 vezes e crescerá pelo menos mais 46% nos próximos cinco anos, pelo volume que já foi contratado.
Segundo avaliação da presidente da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), Elbia Gannoum, o cenário é muito favorável no médio e longo prazo. “No cenário econômico, o pior já passou. Hoje, eu diria que as expectativas são muito boas, com a retomada do país e a necessidade de energia para crescer”.
Para Gannoum, o Brasil é campeão no quesito de energias renováveis, com potencial muito grande, e principal fonte renovável é a eólica. “Temos o melhor vento do mundo: melhor qualidade, competitivo, menor preço e com interesse dos investidores”, ressaltou.
O vento brasileiro, especificamente no Nordeste e no Rio Grande do Sul, tem produtividade acima da média mundial – que é de 30% da capacidade instalada. Em estados como Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, o fator de capacidade fica acima de 40% no ano e chega a 60% de julho a outubro, similar ao de uma hidrelétrica.
O inverno e a 1ª metade da primavera são as melhores fases, que coincidem com esvaziamento dos reservatórios. “É uma complementaridade quase que perfeita, quando começa a melhor chuva, cessam os ventos, quando tem menos chuva, vem o melhor vento”, explicou Gannoum.
“[A energia éolica] não pode despachar quando quer, mas tendo (vento), despacha e guarda água nos reservatórios, assim como reduz o uso de outras fontes. É muito mais prudente do que gastar bilhões de reais em termelétricas como se faz. Foram R$ 30 bi em 2015 e 2016” complementou o coordenador de Clima e Energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo.
Principal fonte
Com níveis críticos nas hidrelétricas durante boa parte de 2017, o Nordeste só não teve a geração eólica como principal fonte em março. Em julho, a participação dos ventos chegou a 55,7% – em junho, agosto, setembro e outubro também foi superior a todas as outras somadas, de acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Em 14 de setembro, 64% da energia consumida veio das eólicas, que operavam em 76% da capacidade – um recorde.
O arredamento de terras também produz renda, já que aluguel gira em torno de R$ 1 mil/mês por aerogerador, em contratos que passam de 20 anos. Quatro mil famílias, que dependiam da monocultura de subsistência, são beneficiadas, sendo que a máquina não impede outras atividades.
O mercado deve esgotar as possibilidades no Nordeste e Rio Grande do Sul antes de ir a outros Estados, como São Paulo, que tem o potencial da Alemanha – a 3ª do mundo no setor. O Brasil passou de 9º para 8º em 2017.
Paraná aproveita ventania do Nordeste
Com apenas um parque eólico piloto implantado em 1999 pela Copel (Companhia Paranaense de Energia) na cidade de Palmas, os paranaenses aproveitam os ventos do Nordeste para produzir energia.
Dona de 20 hidrelétricas e distribuidora do Paraná, a empresa tem forte atuação fora do seu Estado de origem com investimento superior a R$ 3 bilhões em energia eólica no Rio Grande do Norte.
Atualmente, a Copel possui 15 parques eólicos em três grandes complexos em operação: dois próprios, o São Bento Energia e o Copel Brisa Potiguar, e 49% de um em São Miguel do Gostoso (RN), com outros 51% da Voltalia, multinacional francesa. Juntos os três representam mais de 10% da capacidade do RN, estado líder, que detêm 30% do potencial brasileiro hoje.
A participação deve aumentar ainda mais neste ano, já que o 4º e maior complexo da Copel, o Cutia, também no RN, deve entrar em operação com 13 parques e capacidade de 312,9 MW.
Segundo o superintendente da Coordenação de Avaliação de Negócios da Copel, Mauro José Bubniak, a empresa também tem dois projetos “encarteirados” de 150 MW no RN. “Se a tarifa for atrativa vamos viabilizar. A expectativa é que a Aneel retome a regularidade e faça dois leilões neste ano, o de abril já está marcado”, comentou.
Além da Copel, as empresas privadas do Paraná também fazem seus negócios girarem no Nordeste, como a CER (Companhia de Energias Renováveis), com parques em operação e construção na Bahia, e a Brasventos (JMalucelli Energia é acionista majoritária) com parques em operação no RN.
Atenciosamente
Alexandre Kellermann
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