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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Os carros eléctricos ameaçam Reino Unido

Em Julho de 2017, o Governo britânico tomou a decisão de banir os automóveis e os veículos comerciais, com motores diesel ou gasolina, a partir de 2040. O objectivo é, essencialmente, reduzir a poluição atmosférica e ajudar o Reino Unido (RU) a cortar as emissões de carbono em cerca de 80%, tendo como base os valores de 1990, até 2050. O problema reside no que vai ser necessário mudar, e investir, para tornar tudo isto exequível.

 

Muito antes da batalha contra os motores a combustão, o RU já tinha um problema sério de ambiente, ou não fosse um dos que mais depende de fontes não renováveis, sendo na Europa o que mais queima carvão, até para produzir energia eléctrica, juntamente com a Alemanha e, em menor escala, a Polónia. A juntar às centrais a carvão, que os ingleses pretendem desligar em 2025 (asseguram um total de 12 GW), o RU tem entre mãos o problema das nove centrais nucleares que possui, todas à excepção de uma, a chegar ao fim do tempo de vida útil em 2030.

 

 

Para se ter uma ideia concreta dos custos envolvidos, só uma central nuclear nova, como a única que os britânicos têm em construção neste momento em Hinkley Point, implica um investimento estimado em 22,2 mil milhões de euros (19,6 mil milhões de libras). O projecto vai custar o dobro do que foi investido nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, e assume-se como a central mais cara do mundo, embora alguns críticos antecipem que, quando finalmente for inaugurada, já estará ultrapassada.

 

Governo previu 113 mil milhões de euros. Mas é “curto”

Quando se pensou, pela primeira vez, acabar com os motores a gasolina e diesel, há quatro anos atrás, o Governo avaliou que a decisão implicaria um custo – na criação de infra-estruturas para assegurar electricidade produzida maioritariamente por fontes renováveis – próximo dos 113,4 mil milhões de libras. Um valor ‘assustador’ que, hoje, parece apenas pecar por defeito.

 

Num cenário conservador, e apesar dos veículos convencionais com motor de combustão continuarem a circular (necessariamente fora dos centros urbanos), o actual parque de 90 mil veículos eléctricos disparará para 20 milhões em 2040. E porque a esmagadora maioria será alimentada por bateria, todos eles necessitarão de ser recarregados, seja em casa ou em postos públicos. Para começar, cada um destes postos de carga tem um valor unitário entre 25 e 30 mil euros e é necessário passar dos actuais 13 mil para 2 a 2,5 milhões até 2040, o que representa 75 mil milhões de euros.

 

Só para substituir as centrais a carvão e nucleares antigas, além de fazer frente às crescentes necessidades de mais energia, fruto do crescimento do parque de veículos eléctricos, o Governo do RU estimou um total de 140 GW até 2035, ou seja, mais 30 GW do que hoje produz. Face aos 3,2 GW que irão ser gerados numa central como a nuclear de Hinkley Point, o que está em cima da mesa é construir 10 destas instalações, ou idealmente centrais sustentáveis, melhores para o ambiente, mas não necessariamente mais amigas do orçamento britânico.

 

Soluções há, mas…

Mesmo com todo este investimento, a inclusão dos veículos eléctricos a bateria na sociedade actual é complexa e, para correr bem, é forçoso contar com a ajuda – devidamente subsidiada, claro está – dos utilizadores. Se os 20 milhões de veículos se ligarem à rede para alimentar as baterias dos seus carros – que, em 2040, terão uma capacidade média mais próxima dos 80 kWh do que os actuais 40, vai ser altamente possível que a rede venha abaixo. A menos que se construam mais umas centrais para incrementar a margem de segurança.

 

O truque vai consistir em levar as pessoas a alimentar os acumuladores durante a noite, em que a energia é excedentária na rede, e barata, para depois afastar-se das tomadas de corrente durante o dia, especialmente entre as 18 e as 21 horas, quando a electricidade tem mais procura e é mais cara. Para convencer os condutores a alinhar neste esquema, será necessário vender energia abaixo do preço de noite e penalizar o seu consumo de dia, sugerindo ainda o negócio V2G (vehicle to grid), em que o automobilista que ainda tem a bateria do carro cheia e sabe que não vai necessitar do veículo até à manhã seguinte, a pode vender à rede no período de pico, e ganhar mais uns trocos com isso. Sabendo que quanto maiores forem os trocos, maior será a adesão.

 

O ideal seria fomentar as outras soluções para os carros eléctricos, que não incluam a bateria, pois é ela, bem como a necessidade de a recarregar, que coloca mais problemas. Soluções como as células de combustível tornariam tudo muito mais fácil. E barato. Muito mais barato. E se esta é a realidade inglesa, a dos restantes países europeus – a começar por Portugal, apesar da energia que produzimos ser substancialmente mais limpa – não é muito diferente.

http://observador.pt/2018/02/08/os-carros-electricos-ameacam-reino-unido/

 

Atenciosamente

 

Alexandre Kellermann

 

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