BRASÍLIA - Sem a pressão de viabilizar um pacote de novas usinas térmicas movidas a óleo ou a carvão para atender o crescimento da demanda, o governo definiu a realização de quatro leilões de energia no segundo semestre, com destaque para o predomínio, pela primeira vez desde 2005, de projetos de energia renovável. Além da licitação de Belo Monte, que terá quase o dobro de capacidade das duas usinas do rio Madeira juntas, o Ministério de Minas e Energia organiza um certame voltado exclusivamente a projetos eólicos e prepara até nove concessões de hidrelétricas de médio porte em dezembro.
O primeiro leilão está marcado para 27 de agosto e é do tipo A-3 - os contratos preveem a entrega de energia três anos após o fechamento dos negócios, daí o nome. Diferentemente dos anos anteriores, em que as especulações do mercado quanto ao desequilíbrio entre oferta e demanda estimulavam projetos nessa modalidade, desta vez o cenário é de tranquilidade e poucos duvidam que as distribuidoras têm energia contratada suficiente para atender seus clientes em 2012.
" A nossa expectativa inicial já era de poucos contratos nesse leilão " , afirma Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal responsável pelo planejamento do setor. Ele prevê expansão de apenas 1,2% da demanda neste ano. " Agora, com a crise econômica, a folga ficou ainda maior. "
Em dezembro, o governo fará um leilão A-5 - com início do suprimento cinco anos após a venda da energia. Desde 2005, o predomínio de térmicas " sujas " tem sido avassalador. No último leilão dessa modalidade, em setembro do ano passado, 73% dos 3.125 MW médios negociados eram de térmicas a óleo combustível ou a carvão - não houve oferta de nenhuma hidrelétrica.
Para o próximo leilão, Tolmasquim conta com a presença de até nove hidrelétricas, que totalizam 1.572 MW. Isso representa menos de 2% do atual parque gerador e não chega à metade da potência de Jirau, uma das usinas no rio Madeira, mas o fato é tratado com entusiasmo pelo governo por causa da oportunidade de dar um viés " mais limpo " aos leilões de energia. Inclusive porque, com o aumento na produção da Petrobras e a entrada em funcionamento de terminais de gás natural liquefeito (GNL), boa parte dos novos projetos de termelétricas deverão trocar o óleo e o carvão pelo gás, um combustível fóssil que gera menos emissões.
" Já temos uma perspectiva de gás bem melhor do que a dos últimos anos " , ressalta o presidente da EPE. Ele lembra que em 2014, quando a energia desse leilão começará a ser fornecida, o país terá uma malha mais abrangente de gasodutos e a produção da camada pré-sal estará dando sinais de vitalidade. " Temos um quadro que viabiliza novos projetos. Finalmente estamos conseguindo montar um portfólio razoável de hidrelétricas e de termelétricas de maior qualidade " , completa.
Para Tolmasquim, é improvável que as nove hidrelétricas obtenham licenciamento prévio a tempo. A estratégia de deixar o leilão para dezembro foi, justamente, adotada para ganhar um prazo maior com os órgãos ambientais. Isso não prejudica, segundo ele, o cronograma dos investidores. Geralmente, uma hidrelétrica demora cinco anos para ser construída. Aquelas que forem licitadas neste ano precisam estar em operação até 2014.
" São usinas menores e que podem perfeitamente estar prontas em quatro anos " , assegura Tolmasquim. São cinco hidrelétricas no rio Parnaíba (divisa do Piauí com o Maranhão), uma no São Francisco (entre Bahia e Pernambuco), uma no rio Chopim (Paraná) e duas - as maiores, com um total de 803 MW, no rio Teles Pires (Mato Grosso). " Seria muito melhor ao país, inclusive do ponto de vista ambiental se pudéssemos licitar as nove usinas. Mas a palavra final caberá ao Ibama. "
Entre o A-3 e o A-5, está programa um leilão inédito, destinado exclusivamente a projetos de energia eólica. Quantidade e preço dependem da disposição da iniciativa privada. Fontes do setor consideram que o leilão terá êxito se comercializar 1 mil MW de capacidade, mais do que dobrando a atual potência instalada, o que exigiria investimentos estimados em R$ 3,5 bilhões.
O leilão de eólica deverá ocorrer em novembro e a visão do governo é otimista. " Vamos ter uma avalanche de projetos. O número de investidores que demonstrou interesse é enorme " , acredita Tolmasquim. Um dos principais desafios, segundo ele, é flexibilizar o índice de nacionalização dos equipamentos sem comprometer a intenção de trazer indústrias do setor para o Brasil. Hoje, empresários têm colocado a elevada exigência de componentes nacionais como uma barreira para investir. " Queremos achar um mecanismo que incentive a indústria nacional sem barrar a importação " , frisa.
Tolmasquim vê uma tendência de modernização e barateamento dos projetos eólicos. Em 1990, os aerogeradores mais comuns tinham potência de 500 kW e 54 metros de altura, com pás de 40 metros de diâmetro. Atualmente eles chegam a 5 MW de potência, até 120 metros de altura e pás com 120 metros de diâmetro (superior a um campo de futebol).
No entanto, a grande atenção dos investidores está voltada mesmo para o leilão da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, com 11.181 MW. O custo da usina pode alcançar US$ 7 bilhões e a intenção do governo é licitá-la em outubro. Até agora, o Ibama ainda não aceitou o estudo de impacto ambiental (EIA-Rima), sob responsabilidade da Eletronorte. Tolmasquim está confiante na manutenção do cronograma e avisa que a participação das estatais do sistema Eletrobrás dependerá muito da manifestação de interessados na iniciativa privada. " A meta é viabilizar pelo menos dois consórcios para estimular a competição " , esclarece.
(Daniel Rittner Valor Econômico)
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/05/05/governo-fara-quatro-leiloes-de-energia-no-segundo-semestre-755697798.asp
O primeiro leilão está marcado para 27 de agosto e é do tipo A-3 - os contratos preveem a entrega de energia três anos após o fechamento dos negócios, daí o nome. Diferentemente dos anos anteriores, em que as especulações do mercado quanto ao desequilíbrio entre oferta e demanda estimulavam projetos nessa modalidade, desta vez o cenário é de tranquilidade e poucos duvidam que as distribuidoras têm energia contratada suficiente para atender seus clientes em 2012.
" A nossa expectativa inicial já era de poucos contratos nesse leilão " , afirma Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal responsável pelo planejamento do setor. Ele prevê expansão de apenas 1,2% da demanda neste ano. " Agora, com a crise econômica, a folga ficou ainda maior. "
Em dezembro, o governo fará um leilão A-5 - com início do suprimento cinco anos após a venda da energia. Desde 2005, o predomínio de térmicas " sujas " tem sido avassalador. No último leilão dessa modalidade, em setembro do ano passado, 73% dos 3.125 MW médios negociados eram de térmicas a óleo combustível ou a carvão - não houve oferta de nenhuma hidrelétrica.
Para o próximo leilão, Tolmasquim conta com a presença de até nove hidrelétricas, que totalizam 1.572 MW. Isso representa menos de 2% do atual parque gerador e não chega à metade da potência de Jirau, uma das usinas no rio Madeira, mas o fato é tratado com entusiasmo pelo governo por causa da oportunidade de dar um viés " mais limpo " aos leilões de energia. Inclusive porque, com o aumento na produção da Petrobras e a entrada em funcionamento de terminais de gás natural liquefeito (GNL), boa parte dos novos projetos de termelétricas deverão trocar o óleo e o carvão pelo gás, um combustível fóssil que gera menos emissões.
" Já temos uma perspectiva de gás bem melhor do que a dos últimos anos " , ressalta o presidente da EPE. Ele lembra que em 2014, quando a energia desse leilão começará a ser fornecida, o país terá uma malha mais abrangente de gasodutos e a produção da camada pré-sal estará dando sinais de vitalidade. " Temos um quadro que viabiliza novos projetos. Finalmente estamos conseguindo montar um portfólio razoável de hidrelétricas e de termelétricas de maior qualidade " , completa.
Para Tolmasquim, é improvável que as nove hidrelétricas obtenham licenciamento prévio a tempo. A estratégia de deixar o leilão para dezembro foi, justamente, adotada para ganhar um prazo maior com os órgãos ambientais. Isso não prejudica, segundo ele, o cronograma dos investidores. Geralmente, uma hidrelétrica demora cinco anos para ser construída. Aquelas que forem licitadas neste ano precisam estar em operação até 2014.
" São usinas menores e que podem perfeitamente estar prontas em quatro anos " , assegura Tolmasquim. São cinco hidrelétricas no rio Parnaíba (divisa do Piauí com o Maranhão), uma no São Francisco (entre Bahia e Pernambuco), uma no rio Chopim (Paraná) e duas - as maiores, com um total de 803 MW, no rio Teles Pires (Mato Grosso). " Seria muito melhor ao país, inclusive do ponto de vista ambiental se pudéssemos licitar as nove usinas. Mas a palavra final caberá ao Ibama. "
Entre o A-3 e o A-5, está programa um leilão inédito, destinado exclusivamente a projetos de energia eólica. Quantidade e preço dependem da disposição da iniciativa privada. Fontes do setor consideram que o leilão terá êxito se comercializar 1 mil MW de capacidade, mais do que dobrando a atual potência instalada, o que exigiria investimentos estimados em R$ 3,5 bilhões.
O leilão de eólica deverá ocorrer em novembro e a visão do governo é otimista. " Vamos ter uma avalanche de projetos. O número de investidores que demonstrou interesse é enorme " , acredita Tolmasquim. Um dos principais desafios, segundo ele, é flexibilizar o índice de nacionalização dos equipamentos sem comprometer a intenção de trazer indústrias do setor para o Brasil. Hoje, empresários têm colocado a elevada exigência de componentes nacionais como uma barreira para investir. " Queremos achar um mecanismo que incentive a indústria nacional sem barrar a importação " , frisa.
Tolmasquim vê uma tendência de modernização e barateamento dos projetos eólicos. Em 1990, os aerogeradores mais comuns tinham potência de 500 kW e 54 metros de altura, com pás de 40 metros de diâmetro. Atualmente eles chegam a 5 MW de potência, até 120 metros de altura e pás com 120 metros de diâmetro (superior a um campo de futebol).
No entanto, a grande atenção dos investidores está voltada mesmo para o leilão da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, com 11.181 MW. O custo da usina pode alcançar US$ 7 bilhões e a intenção do governo é licitá-la em outubro. Até agora, o Ibama ainda não aceitou o estudo de impacto ambiental (EIA-Rima), sob responsabilidade da Eletronorte. Tolmasquim está confiante na manutenção do cronograma e avisa que a participação das estatais do sistema Eletrobrás dependerá muito da manifestação de interessados na iniciativa privada. " A meta é viabilizar pelo menos dois consórcios para estimular a competição " , esclarece.
(Daniel Rittner Valor Econômico)
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/05/05/governo-fara-quatro-leiloes-de-energia-no-segundo-semestre-755697798.asp
Postar um comentário