Quando o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma nova lei de energia, dois anos atrás, muita gente escreveu o obituário da lâmpada incandescente. A lei estabelecia novas e severas metas de eficiência energética que devem vigor a partir de 2012, e nenhuma das lâmpadas incandescentes tradicionais então existentes seria capaz de cumpri-las. Com isso, uma tecnologia com mais de um século de tradição e papel central na criação do mundo moderno parecia estar condenada.
Na verdade, porém, os obituários parecem ter sido prematuros.
Pesquisadores em diversos centros dos Estados Unidos estão na corrida para reviver a lâmpada elétrica no formato inventado por Thomas Edison, e esses esforços se aceleraram com a aprovação da nova lei. Como parte dessa disputa, já existe uma empresa produzindo em volume limitado lâmpadas incandescentes capazes de cumprir as normas que vigorarão a partir de 2012, e pesquisadores prometem uma leva de produtos inovadores nesse mesmo segmento para os próximos anos.
Na verdade, a lâmpada incandescente está se transformando em uma prova de como medidas regulatórias adotadas por ordem do governo podem se transformar em ferramentas de estímulo à inovação.
"Existe uma percepção incorreta mas generalizada de que as lâmpadas incandescentes estão a caminho da extinção", diz Chris Calwell, pesquisador da Ecos Consulting, que estuda o mercado de lâmpadas. "Houve mais inovações no design de lâmpadas incandescentes nos últimos três anos do que nas duas décadas precedentes".
As primeiras lâmpadas a emergir desse grande esforço, conhecidas como Halogena Energy Savers, são produzidas pela Philips e são caras se comparadas aos demais modelos incandescentes. O preço é US$ 5 por unidade, ante apenas US$ 0,25 no caso de algumas lâmpadas incandescentes comuns.
Mas elas também oferecem eficiência energética cerca de 30% mais alta que a das lâmpadas tradicionais. A Philips alega que uma Halogena Energy Saver de 70 watts oferece a mesma luminosidade de uma lâmpada convencional de 100 watts e dura cerca de três vezes mais, e que isso com o tempo mais que compensa a disparidade de preços.
As lâmpadas da nova linha, por enquanto vendida apenas nas lojas da cadeia Home Depot e no site de varejo Amazon.com, não são tão eficientes quanto as lâmpadas fluorescentes compactas, que podem usar até 75% menos energia do que as lâmpadas mais antigas. Mas a linha Energy Saver está encontrando espaço entre os consumidores mais preocupados com a ecologia, que não apreciam a luz das lâmpadas fluorescentes e se incomodam com fatores como sua demora de acionamento e o conteúdo de mercúrio desse tipo de produto.
"Estamos registrando crescimento em dois dígitos, e vamos continuar a expandir a variedade de lâmpadas disponíveis", afirmou Jorge Hernandez, o executivo que responde pela compra das lâmpadas que serão vendidas pela Home Depot. "A maioria das pessoas que adquirem esse novo modelo são compradores de lâmpadas fluorescentes que não gostaram delas ou identificaram algum ponto no qual elas não funcionam".
Para os pesquisadores da iluminação que estão envolvidos na corrida pelo salvamente da lâmpada incandescente, o objetivo é desenvolver uma versão dela que se equipare à economia de energia oferecida pelas fluorescentes mas mantenha as qualidades que muitos consumidores parecem apreciar nas lâmpadas incandescentes, como a cor da luz que elas propiciam e a facilidade de utilizá-las com equipamentos como controles graduais de iluminação.
"Devido à lei federal da energia de 2007, que decreta que as lâmpadas incandescentes ineficientes sejam descartadas a partir de 2012, nós finalmente estamos testemunhando uma corrida nesse setor", disse Noah Horowitz, cientista sênior do Conselho de Defesa de Recursos Naturais.
Parte do trabalho mais avançado nos novos modelos vem sendo realizado por uma empresa chamada de Deposition Sciences, em Santa Rosa, na Califórnia. A tecnologia que a companhia desenvolveu tem papel central na nova linha de lâmpadas da Philips.
Normalmente, apenas uma pequena porção da energia utilizada por uma lâmpada incandescente é convertida em luz, e o restante é emitido como calor. A Deposition Sciences desenvolveu composto refletores especiais que revestem cápsulas cheias de gás posicionadas em torno do filamento da lâmpada. O revestimento age como uma espécie de espelho de calor que rebate o calor para o filamento, onde ele é transformado em luz.
Embora a primeira versão comercial do novo modelo promova um avanço de eficiência da ordem de apenas 30%, a empresa diz que em laboratório já conseguiu melhoria da ordem de 50%. Não existem fabricantes de lâmpadas já programados para levar essa nova versão da tecnologia ao mercado, por enquanto, mas a Deposition Sciences tem esperança de convencer alguma das empresas do ramo a fazê-lo.
"Nós conseguimos a façanha de construir uma versão melhorada de um produto que todos consideravam já ter atingido seu máximo desenvolvimento", disse Bob Gray, gerente do programa de revestimentos da Deposition Sciences. "Agora, temos de convencer as pessoas a nos procurar para usá-lo".
Com a entrada em vigor dos novos padrões de eficiência energética, os especialistas preveem que novas empresas tentarão desenvolver revestimentos reflexivos para tornar mais eficientes as lâmpadas incandescentes. As três grandes empresas do setor de iluminação nos Estados Unidos - General Electric, Osram Sylvania e Philips - estão todas trabalhando em suas versões da tecnologia, e o mesmo se aplica a concorrentes menores como a Auer Lighting, da Alemanha, e a Toshiba, do Japão.
E uma onda de inovações parece estar a ponto de chegar. David Cunningham, um inventor de Los Angeles que tem um histórico considerável em termos de levar ao mercado inovações na iluminação, investiu mais de US$ 5 milhões em capital próprio para desenvolver um revestimento refletivo e projetar uma lâmpada que, em sua avaliação, poderia eleva em 100% a eficiência das lâmpadas incandescentes.
"Existe enorme interesse", disse Cunningham. "Todas as grandes empresas de iluminação desejam um contrato de exclusividade quanto ao uso da nossa tecnologia, assim que conseguirmos comprovar sua viabilidade".
Tanto Cunningham quanto a Deposition Sciences vêm acompanhando o trabalho de Chunlei Guo, um professor associado de óptica na Universidade de Rochester, que em maio anunciou que havia utilizado lasers a fim de promover perfurações na superfície de um filamento de tungstênio. "Nossas mensurações demonstraram que um filamento que tenha recebido esse tratamento se torna duas vezes mais brilhante com o mesmo consumo de energia", disse Guo.
E um professor de Física do Instituto Politécnico Rensselaer, Shawn-Yu Lin, também está obtendo avanços no desempenho das lâmpadas incandescentes por meio de um filamento de alta tecnologia, revestido de irídio, que recicla calor desperdiçado. "A tecnologia pode se tornar até seis ou sete vezes mais eficiente", disse Lin.
A despeito de uma década de campanhas da parte do governo e das empresas de energia dos Estados Unidos para persuadir os usuários a adotar as lâmpadas fluorescentes compactas, mais econômicas, as lâmpadas incandescentes continuam a responder por 90% dos soquetes elétricos residenciais do país. Além das objeções estéticas e práticas às lâmpadas fluorescentes, as incandescentes ao velho estilo têm a vantagem de serem notavelmente baratas.
Mas as mais baratas dessas lâmpadas devem desaparecer das lojas entre 2012 e 2014, expelidas do mercado pelas novas normas do governo. As lâmpadas fluorescentes compactas, cujo preço pode ser de apenas US$ 1 por unidade, talvez se tornem a alternativa mais barata; os consumidores provavelmente gastarão três ou quatro vezes mais para receber as mais recentes lâmpadas incandescentes de alta eficiência energética.
Uma terceira tecnologia, que produz lâmpadas com o uso de diodos emissores de luz (LEDs), promete avanços notáveis de eficiência, mas continua a ser dispendiosa. Os preços podem superar os US$ 100 por unidade, e resultados de um programa de testes do governo indicam que elas ainda enfrentam problemas.
Isso sugere que os LEDs, ainda que amplamente usados para aplicações especializadas tais como produtos eletrônicos e, cada vez mais, iluminação pública, podem não substituir as tecnologias domésticas dominantes, ou pelo menos ainda não.
Dados os custos elevados das novas lâmpadas, as grandes companhias de iluminação estão agindo gradualmente. A Osram introduzirá em setembro uma nova linha de incandescentes, 25% mais eficientes. As lâmpadas apresentarão uma cápsula reprojetada com gás de qualidade superior no interior, e serão vendidas por preço inicial de US$ 3 - inferior ao do produto concorrente da Philips, mas para uma lâmpada de menor duração. A GE também planeja introduzir uma linha de incandescentes domésticas que cumprirão as novas normas.
Calwell, da Ecos Consulting, prevê "muito mais variedades" de lâmpadas incandescentes no futuro. "É difícil manter a liderança em um setor ativo como o das fluorescentes", diz. "Mas uma empresa poderia se diferenciar de verdade com uma incandescente superior".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3863672-EI4799,00-Lampadas+incandescentes+voltam+a+vanguarda.html
Na verdade, porém, os obituários parecem ter sido prematuros.
Pesquisadores em diversos centros dos Estados Unidos estão na corrida para reviver a lâmpada elétrica no formato inventado por Thomas Edison, e esses esforços se aceleraram com a aprovação da nova lei. Como parte dessa disputa, já existe uma empresa produzindo em volume limitado lâmpadas incandescentes capazes de cumprir as normas que vigorarão a partir de 2012, e pesquisadores prometem uma leva de produtos inovadores nesse mesmo segmento para os próximos anos.
Na verdade, a lâmpada incandescente está se transformando em uma prova de como medidas regulatórias adotadas por ordem do governo podem se transformar em ferramentas de estímulo à inovação.
"Existe uma percepção incorreta mas generalizada de que as lâmpadas incandescentes estão a caminho da extinção", diz Chris Calwell, pesquisador da Ecos Consulting, que estuda o mercado de lâmpadas. "Houve mais inovações no design de lâmpadas incandescentes nos últimos três anos do que nas duas décadas precedentes".
As primeiras lâmpadas a emergir desse grande esforço, conhecidas como Halogena Energy Savers, são produzidas pela Philips e são caras se comparadas aos demais modelos incandescentes. O preço é US$ 5 por unidade, ante apenas US$ 0,25 no caso de algumas lâmpadas incandescentes comuns.
Mas elas também oferecem eficiência energética cerca de 30% mais alta que a das lâmpadas tradicionais. A Philips alega que uma Halogena Energy Saver de 70 watts oferece a mesma luminosidade de uma lâmpada convencional de 100 watts e dura cerca de três vezes mais, e que isso com o tempo mais que compensa a disparidade de preços.
As lâmpadas da nova linha, por enquanto vendida apenas nas lojas da cadeia Home Depot e no site de varejo Amazon.com, não são tão eficientes quanto as lâmpadas fluorescentes compactas, que podem usar até 75% menos energia do que as lâmpadas mais antigas. Mas a linha Energy Saver está encontrando espaço entre os consumidores mais preocupados com a ecologia, que não apreciam a luz das lâmpadas fluorescentes e se incomodam com fatores como sua demora de acionamento e o conteúdo de mercúrio desse tipo de produto.
"Estamos registrando crescimento em dois dígitos, e vamos continuar a expandir a variedade de lâmpadas disponíveis", afirmou Jorge Hernandez, o executivo que responde pela compra das lâmpadas que serão vendidas pela Home Depot. "A maioria das pessoas que adquirem esse novo modelo são compradores de lâmpadas fluorescentes que não gostaram delas ou identificaram algum ponto no qual elas não funcionam".
Para os pesquisadores da iluminação que estão envolvidos na corrida pelo salvamente da lâmpada incandescente, o objetivo é desenvolver uma versão dela que se equipare à economia de energia oferecida pelas fluorescentes mas mantenha as qualidades que muitos consumidores parecem apreciar nas lâmpadas incandescentes, como a cor da luz que elas propiciam e a facilidade de utilizá-las com equipamentos como controles graduais de iluminação.
"Devido à lei federal da energia de 2007, que decreta que as lâmpadas incandescentes ineficientes sejam descartadas a partir de 2012, nós finalmente estamos testemunhando uma corrida nesse setor", disse Noah Horowitz, cientista sênior do Conselho de Defesa de Recursos Naturais.
Parte do trabalho mais avançado nos novos modelos vem sendo realizado por uma empresa chamada de Deposition Sciences, em Santa Rosa, na Califórnia. A tecnologia que a companhia desenvolveu tem papel central na nova linha de lâmpadas da Philips.
Normalmente, apenas uma pequena porção da energia utilizada por uma lâmpada incandescente é convertida em luz, e o restante é emitido como calor. A Deposition Sciences desenvolveu composto refletores especiais que revestem cápsulas cheias de gás posicionadas em torno do filamento da lâmpada. O revestimento age como uma espécie de espelho de calor que rebate o calor para o filamento, onde ele é transformado em luz.
Embora a primeira versão comercial do novo modelo promova um avanço de eficiência da ordem de apenas 30%, a empresa diz que em laboratório já conseguiu melhoria da ordem de 50%. Não existem fabricantes de lâmpadas já programados para levar essa nova versão da tecnologia ao mercado, por enquanto, mas a Deposition Sciences tem esperança de convencer alguma das empresas do ramo a fazê-lo.
"Nós conseguimos a façanha de construir uma versão melhorada de um produto que todos consideravam já ter atingido seu máximo desenvolvimento", disse Bob Gray, gerente do programa de revestimentos da Deposition Sciences. "Agora, temos de convencer as pessoas a nos procurar para usá-lo".
Com a entrada em vigor dos novos padrões de eficiência energética, os especialistas preveem que novas empresas tentarão desenvolver revestimentos reflexivos para tornar mais eficientes as lâmpadas incandescentes. As três grandes empresas do setor de iluminação nos Estados Unidos - General Electric, Osram Sylvania e Philips - estão todas trabalhando em suas versões da tecnologia, e o mesmo se aplica a concorrentes menores como a Auer Lighting, da Alemanha, e a Toshiba, do Japão.
E uma onda de inovações parece estar a ponto de chegar. David Cunningham, um inventor de Los Angeles que tem um histórico considerável em termos de levar ao mercado inovações na iluminação, investiu mais de US$ 5 milhões em capital próprio para desenvolver um revestimento refletivo e projetar uma lâmpada que, em sua avaliação, poderia eleva em 100% a eficiência das lâmpadas incandescentes.
"Existe enorme interesse", disse Cunningham. "Todas as grandes empresas de iluminação desejam um contrato de exclusividade quanto ao uso da nossa tecnologia, assim que conseguirmos comprovar sua viabilidade".
Tanto Cunningham quanto a Deposition Sciences vêm acompanhando o trabalho de Chunlei Guo, um professor associado de óptica na Universidade de Rochester, que em maio anunciou que havia utilizado lasers a fim de promover perfurações na superfície de um filamento de tungstênio. "Nossas mensurações demonstraram que um filamento que tenha recebido esse tratamento se torna duas vezes mais brilhante com o mesmo consumo de energia", disse Guo.
E um professor de Física do Instituto Politécnico Rensselaer, Shawn-Yu Lin, também está obtendo avanços no desempenho das lâmpadas incandescentes por meio de um filamento de alta tecnologia, revestido de irídio, que recicla calor desperdiçado. "A tecnologia pode se tornar até seis ou sete vezes mais eficiente", disse Lin.
A despeito de uma década de campanhas da parte do governo e das empresas de energia dos Estados Unidos para persuadir os usuários a adotar as lâmpadas fluorescentes compactas, mais econômicas, as lâmpadas incandescentes continuam a responder por 90% dos soquetes elétricos residenciais do país. Além das objeções estéticas e práticas às lâmpadas fluorescentes, as incandescentes ao velho estilo têm a vantagem de serem notavelmente baratas.
Mas as mais baratas dessas lâmpadas devem desaparecer das lojas entre 2012 e 2014, expelidas do mercado pelas novas normas do governo. As lâmpadas fluorescentes compactas, cujo preço pode ser de apenas US$ 1 por unidade, talvez se tornem a alternativa mais barata; os consumidores provavelmente gastarão três ou quatro vezes mais para receber as mais recentes lâmpadas incandescentes de alta eficiência energética.
Uma terceira tecnologia, que produz lâmpadas com o uso de diodos emissores de luz (LEDs), promete avanços notáveis de eficiência, mas continua a ser dispendiosa. Os preços podem superar os US$ 100 por unidade, e resultados de um programa de testes do governo indicam que elas ainda enfrentam problemas.
Isso sugere que os LEDs, ainda que amplamente usados para aplicações especializadas tais como produtos eletrônicos e, cada vez mais, iluminação pública, podem não substituir as tecnologias domésticas dominantes, ou pelo menos ainda não.
Dados os custos elevados das novas lâmpadas, as grandes companhias de iluminação estão agindo gradualmente. A Osram introduzirá em setembro uma nova linha de incandescentes, 25% mais eficientes. As lâmpadas apresentarão uma cápsula reprojetada com gás de qualidade superior no interior, e serão vendidas por preço inicial de US$ 3 - inferior ao do produto concorrente da Philips, mas para uma lâmpada de menor duração. A GE também planeja introduzir uma linha de incandescentes domésticas que cumprirão as novas normas.
Calwell, da Ecos Consulting, prevê "muito mais variedades" de lâmpadas incandescentes no futuro. "É difícil manter a liderança em um setor ativo como o das fluorescentes", diz. "Mas uma empresa poderia se diferenciar de verdade com uma incandescente superior".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3863672-EI4799,00-Lampadas+incandescentes+voltam+a+vanguarda.html

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