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terça-feira, 13 de abril de 2010

Crescimento e gases estufa

Recebi algumas críticas de ambientalistas com relação ao artigo que publiquei na revista do NYT, no qual proponho que podemos arcar com o custo de limitar a emissão dos gases estufa a preços reais, porém modestos. Curiosamente, os comentários vêm de duas direções.

De um lado, há aqueles que insistem que a transformação da economia num sistema mais sustentável é uma situação em que ninguém perde: mais empregos, mais crescimento e também menos carbono.

Do outro lado, há aqueles que insistem na impossibilidade de proteger o planeta a não ser que admitamos a necessidade de abrir mão do crescimento econômico.

Em relação ao primeiro grupo: há um bom número de evidências provando que muitas das medidas para aumentar a eficiência energética proporcionariam também uma redução de custos, mesmo nos preços atuais. Como a maioria dos economistas, encaro essas estimativas com algum ceticismo: se tais medidas realmente proporcionariam uma redução de custos, por que ainda não foram implementadas? Isso não seria um indício de que há custos ocultos?

Dito isso, no mundo real as pessoas não são perfeitamente racionais, e assim pode muito bem haver medidas capazes de poupar energia que não estão sendo adotadas. Entretanto, eu diria ainda que, levando-se em consideração as proporções do ajuste que precisamos fazer, essas reduções gratuitas não serão capazes de proporcionar uma parte realmente significativa da contenção das emissões de carbono que necessitamos promover.

Quanto aos pessimistas: há entre alguns ambientalistas a tendência de adotar uma espécie de visão mecânica a respeito da economia, na qual parece haver uma correspondência direta entre o PIB real e as emissões de carbono (curiosamente, a direita costuma afirmar a existência dessa mesma equivalência, usando-a como pretexto para dizer que não podemos arcar com o custo de lutar contra a mudança climática).

Na verdade, a questão envolve um grau muito maior de escolha e flexibilidade.

Uma das maneiras de encarar o problema é pensar na fonte das emissões de gases estufa, como no gráfico acima. Ao observá-lo, acho que podemos ter uma dimensão da natureza do ajuste necessário.

Em primeiro lugar, a geração de eletricidade precisa ser “descarbonizada”: energia solar, nuclear, eólica, geotérmica e quem sabe alguns sistemas a base de combustíveis fósseis com captura de carbono são alternativas para substituir as usinas abastecidas com carvão. Isso está ao alcance das tecnologias atuais.

Em segundo lugar, o consumo energético residencial e comercial – principalmente nos sistemas de aquecimento – tem de passar por uma ampla descarbonização; se a geração de eletricidade for descarbonizada, boa parte dessa etapa pode ser cumprida por meio da adoção de sistemas elétricos.

A mudança mais difícil está nos transportes. Neste setor, o que deve haver é uma combinação de abordagens: maior eficiência; eletrificação (incluindo os modelos híbridos); combustíveis de baixa emissão (certamente o gás natural; hidrogênio?); e outras alternativas nas quais ainda não pensamos.

Tudo isso é condizente com uma economia em crescimento. Não estou dizendo que a tarefa é fácil; mas, com os incentivos certos, seremos capazes de superar esse desafio.

http://blogs.estadao.com.br/paul-krugman/2010/04/13/crescimento-e-gases-estufa/

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