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domingo, 18 de abril de 2010

P&D: um diferencial para poucos

A 74Km de Natal, no município de João Câmara, a empresa Calcário Imap Agro Mineração produz 60 mil toneladas de pó de calcário, por ano, para abastecer o setor agrícola. O produto é aplicado na correção de solos considerados ácidos e é o foco do negócio desde 1976. “Dez anos antes iniciamos pesquisas com calcário para verificar as aplicações que teria. Queríamos identificar usos alternativos para nossa propriedade, uma fazenda centenária da família”, diz José Arnaud Junior, que está à frente da empresa. Com a percepção de que agricultura e pecuária teriam pouca viabilidade na região semiárida, mas que, ao contrário disso, havia matéria-prima abundante e brecha no mercado para a produção mineral, ele entrou de cabeça na atividade. O fôlego para o crescimento do negócio têm sido reforçado por pesquisas e investimentos em inovação, caminhos que, apesar dos benefícios que têm potencial para oferecer, são ainda inexplorados por muitas empresas. “Falta a cultura da pesquisa no Rio Grande do Norte e no Brasil”, diz o coordenador de acompanhamento de projetos da Fundação de Apoio à Pesquisa do RN (Fapern), Everton Costa.

O desconhecimento sobre os benefícios e a falta de recursos para investir estão entre os nós que bloqueiam o ingresso principalmente das micro e pequenas empresas no mundo da Pesquisa Tecnológica e do Desenvolvimento de Inovação (P&D). Segundo o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Mota, no Brasil, os dispêndios públicos e privados em P&D somaram R$ 36,2 bilhões em 2008, 1,13% do PIB do país. “A relação parece razoável quando comparada com a observada para o México (que dedicou 0,46% do PIB à P&D), a Argentina (0,51%), a Rússia (1,12%) ou a Itália (1,13%), mas fica assustadoramente aquém da apresentada pela Alemanha (2,54%), por Cingapura (2,61%), pelos Estados Unidos (2,68%), pelo Japão (3,44%) ou pela Coréia do Sul (3,47%)”, compara.

Os governos têm criado mecanismos para despertar o interesse dos empresários por meio de programas de transferência de recursos e de Leis de apoio específicas, a exemplo da Lei do Bem (Lei 11.196/05), que concede incentivos fiscais a empresas que investem em P&D.

A adesão tem crescido, mas, em números absolutos, não chegou, ainda, a ser expressiva. O Relatório Anual da Utilização dos Incentivos Fiscais da Lei do Bem, publicado em novembro de 2009 sobre o ano base 2008, é um indicador disso e mostra que, naquele ano, 441 empresas brasileiras haviam se habilitado para gozar dos benefícios. No Nordeste, o número não passava de 24. “Algumas empresas deixam de pelo menos avaliar a possibilidade de utilização dos benefícios por desconhecimento da lei ou por entender, sem uma prévia análise, que aqueles gastos que efetuou não seriam enquadrados ou que, mesmo que fossem enquadrados, que o benefício não seria significativo. É uma análise que, se for feita com base no achismo, pode levar a conclusões erradas”, diz o gerente sênior de consultoria Tributária da Deloitte, Sandro Melo. “Mas o empresário preocupado com margens e melhorias tem que analisar um pouco mais se o benefício é aplicável à empresa dele e, se for aplicável, se é significativo para não deixar passar uma oportunidade que pode ser um diferencial em relação ao competidor dele”.

A Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia diz que tem desenvolvido, por exemplo, ações conjuntas com entidades de classe com o objetivo de promover a divulgação dos incentivos.

Número de adeptas é pequeno só em termos nominais

Embora pequeno em termos nominais, o número de empresas adeptas aos incentivos da Lei do Bem vem crescendo fortemente no Nordeste, percentualmente. Desde 2006, o número aumentou 700%, de 3 para 24. Só não foi maior que o alcançado pelo Norte, que chegou a 900% no período.

No Rio Grande do Norte, a Companhia Energética do estado (Cosern) aderiu aos incentivos em 2007 e 2008, mas, de acordo com o gerente do Departamento de Comunicação Institucional da companhia, Helder Cavalcanti Vieira, o retorno não foi tão significativo quanto a empresa esperava. “Em função disso, não buscamos os incentivos em 2010 nem em 2009”, diz. Os incentivos foram buscados para ações que aumentassem a eficiência energética de instalações elétricas e equipamentos ligados à área em hospitais públicos.

Em dez anos, a Cosern investiu mais de R$ 11 milhões em 26 projetos de P&D. A previsão para este ano é que a Empresa invista aproximadamente R$ 1,6 milhão no Rio Grande do Norte, mesmo sem os incentivos fiscais.

Desde que implantou no estado o Programa de Eficiência Energética, em 1999, a Companhia investiu aproximadamente R$ 26 milhões em projetos de eficientização de iluminação pública, instalações elétricas em prédios públicos, indústrias, comércio, irrigação e serviços de abastecimento de água, projetos sociais em comunidades de baixo poder aquisitivo e escolas públicas, gestão energética de municípios. Dentre as ações de grande relevância, destacam-se as iniciativas de responsabilidade socioambiental como os Projetos Nova Geladeira e Energia Verde.

Programas liberam R$ 7,95 mi para pequenas inovadoras

No Rio Grande do Norte, três programas de estímulo à inovação tecnológica estão sendo desenvolvidos por meio da Fapern. Juntos, os programas estão disponibilizando R$ 7,95 milhões para o desenvolvimento de pesquisas em micro e pequenas empresas. A Calcário Imap Agro Mineração é uma das beneficiadas, com um projeto para reduzir a umidade do calcário de 7%, como se encontra quando é extraído da jazida, para 2%, ponto ideal para ser processado. De acordo com Arnaud, a umidade deverá ser reduzida com a ajuda de uma peneira com fluxo reverso de calor, que está sendo desenvolvida por pesquisadores da UFRN. O projeto deverá garantir um ganho de produtividade em torno de 30%.

Atualmente, a desumidificação do produto é feita a céu aberto e fica prejudicada em época de chuva. O projeto que vai resolver esse gargalo começou a ser desenvolvido em outubro de 2009 e deverá ser concluído até o final deste ano. O investimento total é da ordem de R$ 147 mil e ajudou os pesquisadores a irem além na inovação. Eles também desenvolveram uma peneira vibratória autolimpante, para fazer a separação da rocha calcária do pó calcário. “Essa peneira já nos permitiu um aumento de produtividade em torno de 15%”, afirma Arnaud.

Segundo ele, a empresa tem a cultura de destinar entre 2% e 3% da receita líquida, anualmente, para o desenvolvimento de pesquisas. De olho nos resultados que vê sendo obtidos, ele diz que está investindo R$ 850 mil este ano em equipamentos e veículos,. Dos quais 90% emprestados pelo Banco do Nordeste, já de olho no ganho de produtividade que terá com a conclusão do projeto. “estamos com tanta confiança que estamos investindo na frente”, diz.

Com mais produção, a ideia da empresa é atingir os mercados de Pernambuco, Paraíba e quiçá Alagoas. O número de funcionários deverá saltar de 21 para 36 em 2011. “Todos empregos diretos”, reforça.

Os editais lançados pela Fapern exigem que os projetos beneficiários sejam de inovação tecnológica de um produto novo, que ainda será lançado, ou de um processo novo de fabricação de um produto que já existe no portfólio. O objetivo é promover integração entre a academia e as empresas, diz Everton Costa. A Fapern espera lançar novos editais este ano. E já está se movimentando junto à Finep.

http://tribunadonorte.com.br/noticia/p-d-um-diferencial-para-poucos/145966

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