Escassez de engenheiros: mito ou realidade? |
Brasília, 18 de março de 2011.
Reunidos ontem (17) em Belo Horizonte, os presidentes do Ipea, Confea, Senge-PR, Senge-MG e o assessor da CNI, respectivamenten Márico Pochmann, Marcos Túlio de Melo, Raul Otávio, Valter Fanini e Marcos Formiga, debateram com uma plateia formada por profissionais e estudantes, se é mito ou realidade a escassez de engenheiros no Brasil. Os presidentes do Crea-MG, Gilson Queiroz, e do Crea-PR , Álvaro Cabrini, também participaram do seminário.
Márcio Pochmann, palestrante do Fórum, levou ao debate o resultado do Radar nº 12, apresentado pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) na última segunda-feira (15) e fez uma análise sobre a transição social que o Brasil está vivendo.
"Estamos vivendo uma transição de uma sociedade urbana industrial, para uma sociedade em que o conhecimento é decisivo. O nosso ensino não esta preparado para lidar com essa sociedade, que sofreu uma transformação profunda", afirmou, lembrando que o país está deixando de ser jovem e isso, também, exige transformações profundas.
Ao retroagir ao século XVIII, lá na Inglaterra, e percorrer uma linha histórica em que o processo educacional foi transformado, passando a ocupar e a interferir na base econômica mundial, Pochmann lembrou que o Brasil está dando inicio ao fim dessa fase de transição, indo para a era da sociedade imaterial, pós-industrial, com as ocupações dependendo do setor terciário (serviços). "É exatamente aí onde as vagas de trabalho estão sendo geradas. São atividades que podem ser realizadas em qualquer lugar. É um exercício de trabalho bem diferente daquele anterior, por isso todos nós precisamos nos adaptar".
Outro ponto abordado foi o envelhecimento da população. "Hoje há no país três milhões de pessoas com 80 anos. Daqui a duas décadas teremos 20 milhões de pessoas com mais de 80 anos. Essa é uma mudança demográfica que ainda não estamos preparados. Ainda somos um país subdesenvolvido, não só por todas as formas de desigualdade que conhecemos, mas, sobretudo, pela desigualdade de oportunidades. O Brasil é muito desigual, seja qual for a ferramenta que utilizemos nessa análise", afirmou.
Depois dessa contextualização histórica, Pochamann disse que o país precisa ter um olhar de futuro, analisando o que vai ser nas próximas duas décadas. "A partir de 2030 vamos iniciar uma diminuição da população. Chegaremos lá com 207 milhões de habitantes, com o número de nascido menor do que o número de óbitos. Isso vai gerar a redução da população. Esse contexto, atrelado à evolução histórica da nossa sociedade e da nossa economia, nos mostra de forma clara porque temos que rever de forma profunda e estrutural a questão da formação e da oferta de mão de obra no país", afirmou.
Formação - As 400 maiores empresas do Brasil, segundo o palestrante, estão gastando para qualificar seus quadros ¼ do que o país gasta com a educação de todo os brasileiros. "Isso pressupõe uma mudança da visão do poder público", afirmou.
Dados do Ipea apontam que no Brasil há 200 universidades, com 14% dos jovens matriculados num curso de nível superior, enquanto na China há duas mil universidade. "Temos que ter convergência política para que o quadro atual mude. No final do Século XIX vivemos a oportunidade de deixar de ser um país agrícola para ser um país industrial. No entanto, não tivemos convergência, somente sendo feita uma aliança com a Revolução de 30. Hoje temos condição de ser a quinta economia do mundo e de acabar com a pobreza extrema que ainda temos no país. Mas, temos que contar com a convergência de esforços", alertou.
Focando na questão da falta ou não de engenheiros no Brasil, Márcio Pochmann, ao enfatizar que os estudos do Ipea são instrumentos que podem ajudar na reflexão do país, apresentou alguns dados. Para o presidente do Ipea há de fato problemas pontuais, com dificuldades de contratação, que coloca o fator da escassez da mão de obra como um fator importante para o crescimento.
De acordo com uma das projeções do último Radar Ipea apresentados por Pochmann, em 2020 o Brasil terá cerca de 1,8 milhão de engenheiros Dependendo da intensidade do crescimento econômico, o estudo prevê que a quantidade de formandos será suficiente para abastecer o mercado, mas alerta para o desvio da ocupação.
Em 2009, de acordo com o Instituto, apenas 38% dos formados em engenharia estavam no mercado nas suas ocupações de formação. Isso mostra que seis em cada dez engenheiros atuam em outras funções que não engenharia. Em 2020, a previsão é de que esse número aumente para 45%. "É possível que, em alguns setores, como construção civil, mineração, petróleo e gás, haja um gargalo na oferta de profissionais, caso a economia cresça a níveis elevados", afirmou Márcio Pochmann. (veja o Radar nº 12).
"Esse estudo nos mostra que temos problemas pontuais naqueles setores que estiveram estagnados. Não temos um problema unificado de falta de engenheiros, afirmou Márcio Pochmann, lembrando que o Radar nº 12 "é somente uma contribuição para a reflexão nessa perspectiva de crescimento de um país que pode ser cada vez mais justo".
Nas considerações dos debatedores, o presidente do Confea, Marcos Túlio de Melo, afirmou que a escassez de engenheiros "é uma realidade e com tendência ao agravamento nos próximos anos". A razão para essa escassez, na sua visão, se deu por um conjunto de fatores, como a pouca oportunidade de trabalho entre as décadas de 70 a 90, o que levou à migração dos profissionais para outras áreas, dada a pouca oferta de postos de trabalho.
Outros fatores, nas suas ponderações, influenciaram o cenário atual de falta de mão de obra. Um deles, de acordo com a pesquisa "A formação de engenheiros no Brasil: desafio ao crescimento e à formação", realizada no ano passado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), diz respeito ao número de egressos no Brasil em engenharia, comparando com os egressos dos demais países integrantes do estudo. "Para se ter uma ideia, temos 5% de egressos em engenharia no Brasil, enquanto na China é de 35%, na Alemanha é 12,4%, Canadá 8,7% (dados de 2007 – fonte OCDE,2010).
"Concordo com os sindicatos que esse é o momento para fazermos uma ampla mobilização em prol da valorização profissional e salarial. No entanto, além de pensarmos como categoria, defendermos os nossos interesses, precisamos pensar também nos interesses do país", defendeu Marcos Túlio, lembrando que o desafio agora é buscar alternativas que resultem numa maior oferta de mão de obra. Uma deles, segundo ele, está sendo buscada com a realização do censo profissional, a ser realizado pelo Confea e o Ministério d o Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Sobre a possibilidade de entrada de profissionais estrangeiros no Brasil, Marcos Túlio foi enfático: "a importação de mão de obra não é uma boa solução. Nenhum país fez isso. Sofri pressão de alguns países para que fosse flexibilizada a entrada de engenheiros aqui, mas eles não oferecem a mesma contrapartida para os brasileiros", afirmou.
O presidente do Senge-PR, Valter Fanini, lembrou que a escassez pode trazer oportunidades, mas também pode trazer ameaças. "Escassez é um princípio econômico importante. O que rege as relações é o mercado – oferta e demanda. A solução do ponto de vista empresarial era dar um choque. É um desejo do empregador e não podemos cair nessa armadilha de que precisamos formar cada vez mais, pois assim os salários cairão. Não podemos aceitar que esse tipo de tese seja apresentada por quem oferece cursos de engenharia, pois não precisamos do aumento das escolas de engenharia. A escassez não é por falta de vaga em curso de engenharia", afirmou.
"A indústria da educação está pronta para faturar. Os empresários estão prontos para importar mão de obra e baixar salários. O problema da demanda é o nosso perfil econômico. A oferta não se dará com o aumento do número de vagas, mas com a valorização", finalizou Fanini.
Para Marcos Formiga, da Confederação Nacional da indústria (CNI), "a escassez é um fato, não é mito. Essa é a visão da indústria", afirmou. Para ele, como as pesquisas mostram tendências, fica claro que não é preciso um choque de oferta de vagas de cursos. "Elas estão aí, ociosas", disse. Para ele, o Brasil vai viver a melhor década da sua história. "A demanda por engenheiro só tende a aumentar. E, contrariamente a algumas visões, as empresas não querem achatar os salários", concluiu.
OPINIÕES – Escassez de engenheiros: mito ou realidade?
Márcio Pochmann (presidente do Ipea)
"É realidade porque temos a realidade da escassez localizada em determinados setores de atividade econômica e em determinadas regiões, mas, ao mesmo tempo, também é um mito porque não podemos dizer que estão faltando engenheiros para todas as partes. Temos engenheiros sobrando, inclusive, em determinados setores. Há falta de engenheiros em determinadas localidades e em outras há abundante oferta de engenheiros, por isso é que precisamos ver que em determinadas situações há falta, mas em outras sobram. A importância desse debate justamente existe para resolver o problema da escassez e ao mesmo tempo ampliar a oferta de vagas para aqueles que não possuem uma ocupação".
Marcos Túlio (presidente do Confea)
"É uma realidade e com tendência ao agravamento nos próximos anos. Nosso problema não é somente de abertura de vagas. Há um problema grave na formação básica, que gera evasão. Outra coisa grave é que o nosso ensino continua olhando para o passado. Continuamos ensinando engenharia da mesma forma que ensinávamos há 50 anos. Com tantas oportunidades, como a Copa de 2014, o PAC, as Olimpíadas de 2016, o Pré-sal, claro que vamos precisar sim de engenheiros. Vamos ter que pensar o setor público, que teve, ao longo das décadas sem investimentos, seus quadros técnicos completamente desmontados. Outro agravante é que paga salários baixos. Esse também é um desafio enorme. A área da engenharia pública precisa ser reestruturada, pois será mandatária. O PAC hoje não tem projeto para ser licitado, pois as empresas de consultoria, igualmente ao setor público, tiveram seus quadros técnicos desfeitos. Isso mostra que temos carência sim de engenheiros".
Valter Fanini (presidente do Senge-PR)
"É um pouco de mito e um pouco de realidade. Nós passamos por transformações econômicas que obviamente deu movimento em relação à demanda por engenheiros, mas não creio que os engenheiros brasileiros não possam suprir essa demanda. Obviamente o processo de exclusão de milhares de profissionais do mercado, exatamente pela falta de demanda do passado, não pode ser suprida de imediato, mas, com um pouco de paciência e com um pouco de valorização profissional, além da melhoria dos salários, certamente os milhares de engenheiros que saíram da atuação profissional retornarão ao mercado e à engenharia. Não precisamos importar engenheiros e não precisamos massificar o ensino da engenharia para resolver nossas questões pontuais de escassez de engenheiros".
Marcos Formiga (assessor da CNI)
"É uma realidade, porque as estatísticas comprovam, os estudos e pesquisas comprovam e a economia busca esses profissionais de maneira célere. O sistema de formação não responde essa busca na mesma intensidade. Não queremos e não advogamos a criação de novos cursos; eles estão sobrando. Advogamos a melhoria da qualidade dos cursos e o uso das vagas ociosas em cursos que sejam atraentes para os alunos e não como hoje acontece, quando 64%dos alunos que entram nos cursos de engenharia abandonam nos dois primeiros anos por estarem decepcionados com o que encontram nas salas de aula. A pesquisa do Ipea nos mostra que os engenheiros jovens e aqueles com mais experiência (de idade mais elevada), com o aquecimento da economia, a valorização profissional e salários mais atraentes, esses dois intervalos de profissionais estão sendo recrutados. Só que eles custam mais caro, pois a empresa tem que reposicioná- los, treiná-los e capacitá-los para que, os mais antigos se atualizem e os pouco experientes se tornem, objetivamente, treinados para aquilo que a empresa necessita".
Ondine Bezerra
Assessoria de Comunicação do Confea
Leandro Rudnicki
45 9931-6267
CREA 67.859-5 --
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