Foram seis meses de negociação, 288 horas de reuniões e 110 pessoas envolvidas. De um lado, a CPFL Energia, liderada por seu presidente, Wilson Ferreira Júnior. De outro, a Ersa, uma das maiores geradoras de energia a partir de fontes alternativas do Brasil, representada por executivos dos grupos acionistas Pátria Investimentos, Eton Park, BTG Pactual, Bradesco, GMR Energia e DEG. As últimas 35 horas de trabalho ininterrupto foram especialmente intensas: análises e revisões de dezenas de relatórios, teleconferências e incontáveis chamadas telefônicas. Para agilizar a esperada assinatura do contrato, realizada na quarta-feira, 20 de abril, véspera dos feriados de Páscoa, um acionista chegou a ser transportado de helicóptero até a sede da Ersa, na Zona Sul de São Paulo. Nascia ali a CPFL Energias Renováveis, a maior companhia do gênero na América Latina.
A empresa vem ao mundo com ativos avaliados em R$ 4,5 bilhões, considerando a extensa carteira de pequenas centrais elétricas, usinas eólicas e termelétricas à base de biomassa, que somam 4,3 mil megawatts (MW) de capacidade instalada em operação, construção e preparação. A CPFL será a acionista majoritária da nova empresa, com 63,6% das ações, enquanto os 36,4% restantes foram distribuídos entre os acionistas da Ersa. O capital inicial da companhia é de R$ 571 milhões, mas o que conta nesse jogo é a promessa da CPFL de investir R$ 5,8 bilhões até 2013, o que garantirá um crescimento anual de 34% na capacidade instalada de energia da empresa.
O fato é literalmente relevante, em especial para o setor de energia eólica. Até meados de março, a CPFL Energia contava com apenas oito parques eólicos, de 218 MW no total. Após a associação com a Ersa, passou a contabilizar, pelo menos, 46 usinas com capacidade para gerar 3,423 mil MW – um crescimento espetacular de 1.500%. Até 2013, empreendimentos eólicos responderão pela maior fatia da matriz elétrica da nova empresa (45%). De tudo isso, emergem duas conclusões. Primeira: energia alternativa, especialmente a eólica, já não é negócio alternativo no Brasil. Segunda: dada sua atratividade, acaba de ser aberta a temporada de compras no setor.
A CPFL deu o pontapé inicial neste movimento – e o fez com velocidade olímpica. No final de março, Ferreira Júnior anunciou o ingresso do grupo no mercado livre de energia, com investimentos de R$ 600 milhões para a construção de cinco parques eólicos. No mês seguinte, adquiriu, por R$ 1,5 bilhão, a SIIF Énergies, então detentora da maior carteira de parques eólicos do país. Somado o terceiro e mais impactante negócio, do qual resultou a CPFL Renováveis, a empresa desembolsou, de março a abril, mais de R$ 2 bilhões. E as aquisições não devem parar por aí. “Por seu porte, a CPFL Renováveis tem capacidade de ser o veículo de consolidação do setor”, afirma Ferreira Júnior.
O caso é o mais emblemático da efervescência vivida nos últimos dois anos no setor eólico brasileiro. Os projetos de usinas de energia com base no potencial de vento contratados até o momento no país já somam R$ 25 bilhões em investimentos, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) – o montante não inclui a operação envolvendo a CPFL. Companhias que até então apenas forneciam peças importadas para usinas eólicas no Brasil vêm optando por produzir os equipamentos por aqui. Há pouco mais de um mês, a francesa Alstom iniciou a construção de uma nova fábrica no Polo Industrial de Camaçari (BA), com investimento de R$ 50 milhões. Antes disso, no final de 2010, a americana GE concluiu a primeira unidade da companhia voltada ao setor em Campinas (SP), que absorveu um aporte de R$ 140 milhões.
http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI232145-16381,00-E+TEMPO+DE+VENTO+TRECHO.html
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