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terça-feira, 30 de junho de 2015

A culpa não é minha!

Esta semana me deparei com algumas situações que há muito tempo me incomodam, tanto na vida corporativa como na sociedade de modo geral. E quanto mais o tempo passa, certamente pela maior quantidade de cabelos brancos que tenho rapidamente adquirido, mais certas coisas me incomodam.

 

Vamos lá: quantas vezes percebemos as pessoas ou até nós mesmos, diante de um problema, soltarem um sonoro “a culpa não é minha”? Entender é muito fácil. Todo ser humano tem uma tendência natural a se auto-preservar. Diante de um problema, grandes são as chances de fazermos isto no “piloto automático”. Lembra quando era criança e tomava bronca da mãe? Quem nunca soltou uma dessas para a mãe para evitar a surra?

 

Mas este não é o problema. O problema é carregarmos para a vida adulta este comportamento. Lembro de um curso de liderança que fiz há muito tempo na época que trabalhei no Citibank. Uma das partes mostrava o quanto o ser humano achava que sua vida é consequência de seus atos ou é fortemente guiada por um “terceiro poderoso”. A conclusão: norte-americanos acham que sua vida está em grande parte nas suas mãos, ao passo que latino-americanos acreditam que está na mão de um “powerful other”. Achei interessante o estudo e comecei a me aprofundar e conversar com algumas pessoas. Fiz um paralelo com a orientação religiosa e verifiquei que a América do Norte é fortemente protestante e a América Latina é fortemente católica. Qual uma possível conclusão? Crenças básicas de vida. Correndo o risco de generalizações perigosas, na média o protestante se sente mais dono do futuro. Entende que esta vida é para sermos felizes, ricos de espírito e materialmente e que o sucesso e o lucro não são crimes.

 

Por outro lado, a Igreja Católica prega uma vida terrena de provações para ganharmos a vida eterna. Não sei quem está certo, mas depois que morrer conto.

Não quero entrar em juízo de valor, mas quero chamar a atenção para o quanto estas crenças inconscientes modelam nossa visão de mundo e comportamento. Vamos aos fatos. Esta semana o Neymar usou uma jato dele e muita gente malhou dizendo que é exagero e que ele quer se mostrar. Por que tanta gente tem inveja do sucesso financeiro dele? Ele roubou alguém? Acho que não. Nos EUA quem ganha dinheiro e tem sucesso, principalmente se for selfmade man, é ovacionado. Aqui toma ovo, metaforicamente falando.

 

Lá o sucesso é visto como exemplo a ser seguido. Aqui é exemplo a ser criticado. O mindset deles é diferente do nosso. Lembro de uma piada que me contaram há tempos. Estavam passeando um pai e um filho pequeno a pé. Passa um cara numa bela Mercedes e o pai olha pro filho e diz: garoto, se vc se esforçar, um dia pode ter também. Esta mesma cena, passada aqui no Brasil, poderia ser mais ou menos assim: o pai diria: filho, ele tem este carro porque é um burguês opressor capitalista que se aproveita dos menos favorecidos, mas um dia Deus cobra dele esta conta! E olha que isto não seria apenas se o pai fosse do PT. Levanta a mão quem não é petista e parou no semáforo ao lado de uma bela Ferrari e não morreu de inveja? Pau que bate em Chico bate em Francisco...

Sei que a esta altura muita gente vai dizer que estou radicalizando. Estou mesmo, apenas para fazer meu ponto.

 

Quanta gente nas empresas ao invés de se mirar em quem subiu e tentar fazer igual, fica resmungando, desmerecendo a vitória alheia e dizendo que não vai chegar lá por culpa da empresa, dos colegas, de suas origens, etc e tal. Este é um tipo de pessoa que se faz de vítima. Reclama da empresa, dos colegas, do vizinho, da esposa e dos políticos. Mas não tem maturidade para olhar para dentro de si e fazer as reflexões necessárias. O pessoal olha pras pingas que a gente toma, mas não olha pros tombos que a gente toma, já diziam antigamente.

 

Este mesmo cara que reclama de tudo acha que a culpa da corrupção no Brasil é culpa dos políticos. Por mais que não tenho muito prazer em conversar com políticos, independentemente de qual partido sejam, eu discordo que a culpa da corrupção no Brasil é dos políticos. A culpa é minha. A culpa é sua. A culpa é de todos nós. E não estou dizendo que a culpa é minha porque eu os elejo, porque aí iriam dizer: ah, mas não tem opção! São todos ruins e ladrões. A culpa é minha porque eles são feitos de uma mesma base que todos nós. Ninguém é honesto de verdade, ganha uma eleição e vira corrupto. O poder não corrompe, revela...

Há tempos conversava com uma amiga que dizia que o Roberto Jeferson era um bandido (concordo). Eu disse a ela que ele era igual a nós. Quase apanhei. Fiz algumas perguntas a ela e a deixei ainda mais furiosa:

·         Já deu grana pro guarda não te multar?

·         Já comprou CD pirata?

·         Já sonegou o IR?

·         Já comprou sem nota para pagar menos?

·         Já comprou qualquer coisa na 25 de Março?

·         Já “quebrou recibo” médico para aumentar o reembolso do plano de saúde?

·         Já passou na alfândega com mais do que a cota de USD 500 sem declarar (esta é espetacular; faço sempre por último porque todo mundo cai!!!)

·         Etc e tal

O mais bacana é que ao fim, ao se ver sem saída, disse que seus “crimes” eram pequenos e que não faziam mal a ninguém, diferentemente dos crimes do Roberto Jeferson. Então, para poder continuar no churrasco e preservar a amizade, desconversei e mudei de assunto.

O mais bacana é que todo mundo já fez algo de errado na vida e que SEMPRE arranja uma desculpa verdadeira para justificar este comportamento torto, do tipo: se os impostos fossem mais baixos eu comprava na loja e não na 25 de Março.  São espetaculares as artimanhas e desculpas que usamos para justificar algo errado e aliviar a consciência. Sabe qual o problema disso? Estamos adubando nossa plantação com veneno e não com nutrientes. E sabe no que vai dar? No que já está dando... Vamos parar com o discursinho politicamente correto de dizer que precisamos nos preocupar com o mundo que estamos deixando para nossos filhos. Vamos começar a nos preocupar com os filhos que estamos deixando para o nosso mundo. Lembrando que filho aprende observando nossos comportamentos...

 

Por último, queria pedir sinceras desculpas se inadvertidamente agredi alguém por falar em religião e por falar que somos todos farinha do mesmo saco! Apenas estou usando meu direito democrático de expressar minha opinião. Ter opinião não é crime (pouca gente vai entender essa – quem entender me avise, pf). Minha intenção não era agredir ninguém, mas sim chamar atenção para o fato de que nós somos a sociedade que merecemos, com os políticos que merecemos. As simple as that.

Um abraço e bom fds!

Odoardo.

Aconteceu alguma situação profissional que se encaixe no caso acima? Gostaria de compartilhar conosco?

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Atenciosamente

 

Alexandre Kellermann

Alexandre.kellermann@gmail.com

 

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