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sábado, 18 de julho de 2015

A Revolução Eólica (53) ​- ​ Setor ignora crise, cresce 2GW/ano e busca 10% da matriz elétrica

Elbia Gannoum, presidente executiva da Abeeolica / Foto Divulgação

​​Por ​Cleber Dioni Te​n​tardin​i​

A Associação Brasileira de Energia Eólica – ABEEólica projeta chegar no ano de 2020 com 20GW de capacidade instalada no país, o que representa 10% da matriz elétrica nacional.

O otimismo da entidade, que reúne cerca de 100 empresas, baseia-se no desempenho apresentado até agora, em meio à crise econômica.

O setor tem hoje no país uma potência instalada de 6,6GW, o que dá 5% da matriz. Até o final do ano, serão acrescidos mais 3,2GW, já em construção. Outros 14GW foram vendidos no último leilão de energias renováveis, realizado pelo governo em abril. A cada ano, estão sendo vendidos entre 2 e 3GW.

"Vamos chegar em 2019 com 18GW instalados", comemora a presidente da ABEEólica, Elbia Gannoum. A executiva mineira falou com exclusividade ao JÁ sobre os principais avanços do setor e aproveitou para anunciar a criação de uma rede de intercâmbio de  tecnologias e experiências visando fortalecer a cadeia produtiva de energia eólica.

Como estão os investimentos em energia eólica?

Elbia Gannoum – Hoje, pela primeira vez, o Brasil possui política para a energia eólica e promove debates e eventos internacionais. Isso é importante para mostrar à sociedade o que a pesquisa científica traz de efeitos para a economia. O Brasil é o segundo país mais atrativo do mundo em fontes renováveis, só perde para a China. No ano passado, foi o quarto país que mais investiu no setor. Já é a décima economia em capacidade instalada de energia eólica.

Essa crise não ​afetou o setor ?

​​O Brasil está enfrentando dificuldades de abastecimento devido à queda dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas, então, com crise ou sem crescimento, o país tem que contratar energia, manter a capacidade instalada, e aí entra a necessidade de investimento em energia eólica. De cinco anos para cá, 50% da energia contratada no país foi de energia a partir dos ventos porque é a segunda fonte mais barata do Brasil. A terceira fonte é 30 ou 40 reais mais cara. É o único setor que está crescendo, o único que está gerando empregos. Ano passado a indústria eólica criou 37 mil empregos, enquanto nos demais setores foram fechados 100 mil postos de trabalho.

Quanto ao preço, só perde para a energia hidrelétrica. Qual foi o preço praticado no último leilão, em abril?

O preço do último leilão de energias renováveis se mostrou bem defasado em relação ao custo de produção da eólica, porque as condições macroeconômicas mudaram muito no último ano. Câmbio, financiamento, taxa de juros a longo prazo, participação do grau de financiamento do dinheiro do banco versus do acionista, então essas mudanças que aconteceram de um ano pra cá pressionaram muito os custos de produção. Além disso, tem o fato de as empresas terem de nacionalizar os produtos torna mais caro. O preço foi de R$ 179 por MWh, hoje nós entendemos que tem de ser R$ 210. A energia vendida para a Usina Eólica Cerro Chato (Santana do Livramento) foi de R$ 131, mas em valores atualizados é de R$ 205.

A produção de uma usina eólica no Brasil está muito aquém da capacidade instalada?

Estamos adaptando e estudando a tecnologia de ponta dos aerogeradores, que ainda vem de fora. Mas o nosso fator de produtividade é da ordem de 50%, ao contrário da média mundial que é de 30%. Porque nós temos dos melhores ventos do mundo.

Na época em que surgiram os primeiros parques no Brasil, nós fazíamos medições da velocidade do vento a 50 metros de altura. Então nos primeiros parques de Osório o cálculo era de que a produção média seria de 30% da capacidade instalada, a mesma da Europa. A tecnologia mudou. Hoje são feitas medições a 120 metros do chão. E a eficiência dos equipamentos melhorou bastante. A produção de energia eólica no Brasil está caminhando rapidamente para assumir uma posição de liderança no mundo.

O Mapa Eólico foi atualizado em todo o​ pa​ís​?

Se antes, em 2001, quando foi feito o Mapa Eólico, o potencial de capacidade instalada no Brasil era de 143 GW, hoje é superior a 400GW. Ainda não se tem o número exato porque somente dois estados atualizaram seus atlas: o Rio Grande do Sul tem 195GW, a Bahia tem outros 195GW. Aí, já temos quase os 400GW. Então, esse potencial é bem maior com essas novas tecnologias. Estamos, inclusive, criando uma rede que facilite a comunicação e a troca de tecnologia entre os especialistas.

Como vai funcionar essa rede?

É a Rede Brasileira de Inovação de Energias Renováveis Complementares. Vai reunir pesquisadores, investidores e financiadores de projetos de energia eólica. A ideia é colocar uma plataforma na Internet. O projeto está pronto e na fase de captação de recursos. O objetivo é facilitar a troca de tecnologias e experiências e fortalecer a cadeia produtiva de energia eólica.

Parque Geribatu, em Santa Vitória do Palmar / foto Antonio Henriqson

A indústria nacional de equipamentos eólicos está acompanhando o crescimento das usinas?

A exigência de conteúdo nacional está associada ao financiamento, pois 95% dos parques construídos no Brasil são financiados pelo BNDES, logo tem de ser aplicada a política de nacionalização. A partir de 2010, quando se deu o processo de crescimetno do setor, o programa de nacionalização da indústria de energia eólica, que já existia desde o Proinfa (2002), começou a ser implementado com rigor. A partir de 2013, esse programa foi mudado e se tornou mais exigente. Hoje, 80% das turbinas em parques eólicos no Brasil têm que ser nacionalizadas. Há um processo de implementação gradual da nacionalização, que termina em junho de 2016. Estamos vivendo o auge dessa nacionalizaçação e construindo, de fato, uma cadeia produtiva de energia eólica.

Mas há parques menores que não precisaram dos recursos do BNDES

Sim, esses parques que não pegaram dinheiro do BNDES compram equipamento diretamente de outros países. Não tÊm esse impedimento e nem é bom que tenham mesmo, porque não faz sentido querer vetar o capital estrangeiro. Temos dois parques no Brasil que pegaram recurso externos e trouxeram máquinas de fora. Há um parque pequeno em Xangri-lá, que é da Honda, de 27MW, para autoprodução de energia. Os equipamentos são da Vestas, totalmente importados, embora essa empresa também tenha fábrica no Brasil. E tem outro, em Barra dos Coqueiros, que é investimento chinês, de 90MW.

Havia um projeto de uma empresa indiana, que iria construir uma usina eólica grande em Tapes…

Há uma fábrica de aerogeradores indiana, a Suslon, que está no Brasil desde 2007, e suas turbinas são bem comercializadas nos parques eólicos nacionais. Eles até participam do processo de construção, mas não investem nos parques, pois são fornecedores de máquinas.

E existem fabricantes de aerogeradores e de pás, ou hélices, no país?

Sim, há sete fabricantes de turbinas operando ativamente no país, três em processo de instalação, três fabricantes de pás e muitos fabricantes de torres e fonrnecedores de outros serviços. Por questão de logística, as fábricas tendem a se instalar próximas aos parques eólicos. Então, a maioria está indo para o Nordeste. Há fábricas em São Paulo que se instalaram antes desse crescimento da energia eólica. A primeira fábrica que chegou ao Brasil tem quase 20 anos, a Wobben, de Sorocaba.

E no Rio Grande do Sul?

Aqui há fábricas de torres, mas não de naceles, os aerogeradores. De pás, não há necessidade porque há uma fábrica que começou um pouco depois da Wobben, que é a segunda maior fabricante do mundo, a Tecsis, em Sorocaba, genuinamente brasileira, fundada por um engenheiro do ITA. E, há mais duas, um brasileira que se instalou há dois anos no Ceará, e outra americana, em Pernambuco. Então essas três atendem à demanda.

Executivos da, Eletrosul, Ministério de Minas e Energia e Eletrobras anunciando investimetnos no setor em 2011 / Foto Umberto Caletti_Ascom Eletrosul

Em termos de produção de energia, o Rio Grande do Sul perde para alguns estados nordestinos…

Hoje, os estados com maior capacidade instalada de produção de energia eólica são, na ordem, o Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul.

Difícil competir com os ventos do litoral nordestino.

Isso de achar que os melhores ventos estão no litoral, depende muito de que local estamos falando. No Nordeste, nós descobrimos que o melhor vento do país fica no semiárido baiano, na região de Xique-xique, onde a velocidade média do ventos varia de 10 a 12 metros por segundo ou de 36 a 46 quilômetros por hora. Para se ter ideia, em Santa Vitória do Palmar, que registra um dos melhores ventos no RS, segundo o Atlas Eólico, 40% do vento chegam a 8 m/s ou 28,8 km/h.

RS é mais atrativo, segundo especialista alemão

O Rio Grande do Sul tem condições de vento melhores do que a Alemanha para geração de energia eólica, segundo o Jens Peter Molly, diretor geral do Grupo DEWI, empresa alemã com filial no Brasil, que atua na área de consultoria. Ele esteve em Porto Alegre, no fim de junho, onde foi palestrante da 14ª edição do Congresso Internacional de Engenharia do Vento.

Petter Molly conhece bem a realidade brasieira pois foi um dos autores do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), instituído no final do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2012, com o objetivo de aumentar a produção de eletricidade a partir de três fontes alternativas: o vento, a biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas.

Segundo ele, a velocidade dos ventos em solo gaúcho fica na média de 8 metros por segundo, enquanto na Alemanha oscila entre 6 e 7 m/s. Mas, pondera, mesmo em condições melhores que o país europeu, o Rio Grande do Sul, assim como outras regiões brasileiras, sofre com a excessiva burocracia e com a falta de infraestrutura. Ele exemplifica as diferenças: "A Alemanha tem 25 anos de experiência em energia eólica. Todas as regras são transparentes para quem deseja investir neste setor. Lá, proprietários das terras receberem 10% do rendimento anual, a possibilidade dos investidores obterem rendimento médio de 5 mil euros; no Brasil, os ganhos ainda são inseguros, pois dependem de leilões do governo federal, e a liberação para funcionamento leva no mínimo sete anos."

http://jornalja.com.br/a-revolucao-eolica-53-%E2%80%8B-%E2%80%8B-setor-ignora-crise-cresce-2gwano-e-busca-10-da-matriz-eletrica/

 

 

Atenciosamente

 

Alexandre Kellermann

Alexandre.kellermann@gmail.com

 

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