Um recurso fundamental para a indústria, tão precioso quanto caro. A energia que move máquinas e motores e mantém linhas de produção ativas é, também, uma das maiores despesas no orçamento. Para se ter ideia, em alguns segmentos da indústria a energia elétrica representa 10% do custo de produção. Um valor que faz parte da composição de preços – e é por isso que, quando a tarifa aumenta, os preços dos produtos nas prateleiras também inflacionam. Quem explica melhor esta equação é João Arthur Mohr, especialista em infraestrutura e gerente dos Conselhos Temáticos e Setoriais do Sistema Fiep. “Energia é crucial para a indústria, especialmente para os segmentos eletrointensivos, que utilizam com intensidade o recurso. É o caso dos setores de metalurgia, mineração, siderúrgica e têxtil: é um dos principais custos de produção é a energia”, pontua.
O recente aumento da tarifa de energia elétrica, anunciado em junho deste ano, teve grande impacto sobre a indústria paranaense. “O aumento de 17,5% nos custos de indústrias eletrointensivas impacta em um aumento geral de 1,7% nos custos. Se pensarmos em um negócio com margem de lucro entre 3% a 5%, por exemplo, metade da margem desaparece. A empresa é obrigada a repassar esse aumento para os preços, perdendo competitividade e gerando inflação”, detalha Mohr.
Alternativas para garantir a produtividade
Mais do que reduzir custos, repensar as formas de geração de energia é uma tarefa que também envolve questões ambientais. O Paraná já está no caminho: diversas indústrias têm gerado energia a partir dos resíduos de suas próprias fábricas. É o caso das fábricas de papel e celulose, madeira e frigoríficos de aves. Os dejetos são transformados em biomassa, matéria-prima para gerar energia termoelétrica ou biogás. Uma alternativa economicamente viável e ambientalmente sustentável.
Além disso, a análise dos gastos com energia elétrica também é cada vez mais buscada pelas empresas. João Arthur Mohr conta que o Sistema Fiep, por meio do Senai, oferece consultorias na área e já tem resultados expressivos nos negócios: “por meio deste trabalho de consultoria, há empresas que conseguiram reduzir a conta de energia em até 15%. É um valor representativo no orçamento das indústrias”, destaca. “Auxiliamos as empresas a avaliar também se a contratação da energia é adequada às suas demandas”, diz Mohr.
Soluções para eficiência energética
Outras soluções estão no foco do Sistema Fiep em parceria com a Copel. É o caso da modernização do parque de motores elétricos das indústrias do Paraná, que deve acontecer em 2018. “O parque que aciona os equipamentos das indústrias é antigo, tem cerca de 17 anos e precisa ser repensado. Hoje há tecnologia e motores muito mais eficientes, que substituirão os atuais. Esta troca contará com subsídio da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), por meio de um programa que a Copel já está montando. Cerca de 40% do valor dos novos motores será subsidiado pela Agência. Os outros 60% serão investidos pela empresa”, conta Mohr. Segundo ele, o investimento será de recuperação rápida: em 1 ano e meio, a economia de energia na produção será equivalente ao valor pago pelos motores novos.
Outras possibilidades têm alcançado um número cada vez maior de indústrias, como os consórcios. Para setores que não geram resíduos, a associação com outras empresas em usinas fotovoltaicas, eólicas e pequenas centrais hidrelétricas tem gerado economia e melhor uso dos recursos naturais. Mohr conta que, nestes casos, as próprias indústrias também podem montar seu sistema de geração de energia. “É possível fazer uma instalação fotovoltaica em pequenas empresas ou comércios para atender sua própria demanda. O investimento é recuperado em apenas alguns anos”, destaca.
O que a esfera pública pode fazer sobre o assunto?
O Sistema Fiep tem trabalhado em parceria com o setor industrial para pleitear junto ao governo estadual novas alternativas, como a revisão de impostos. Um dos pleitos recentes é a redução do ICMS, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. “Queremos reduzir a alíquota do ICMS da energia elétrica de 29% para 26%. Desta forma, com o aumento da tarifa e redução do imposto, o Estado garante a mesma arrecadação. Para as indústrias, o orçamento fica mais equilibrado”, explica Mohr.
Em relação ao aumento da tarifa, Mohr destaca que a determinação veio do sistema nacional de energia elétrica. Isso porque a conta não inclui somente o custo energético. Ela também subsidia programas públicos e contempla tributos que podem ser assumidos pelas instituições governamentais. “É por isso que a energia elétrica no Brasil está entre as mais caras do mundo. O ideal é rever a forma de subsídios: retirar da conta de luz e colocar em outros impostos, que vão servir como fundo para subsidiar programas energéticos”, destaca Mohr. “Temos que deixar a energia mais barata. Com isso, você produz mais, vende mais, gera mais receita e arrecada mais impostos. E são estes impostos que podem ser reaplicados em programas de subsídio. É preciso inverter a equação atual e é para isso que temos atuado fortemente junto aos governos estadual e federal”, encerra.
Atenciosamente
Alexandre Kellermann
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