Longe vai o tempo em que o futuro da energia se assemelhava quase a algo retirado de um filme de ficção científica. É certo que poderemos ter redes cada vez mais inteligentes, capacidades digitais impensáveis até há bem pouco tempo ou fontes de energia improváveis. Mas se quiser envergar a sua máscara de detetive de verão do policial que está a ler na praia e reunir as pistas que apontem para mundo energético dentro de dez anos, não precisa de ir longe: elas estão à sua volta e já estão a influenciar a forma como faz os seus consumos.
Futuro para o qual o EDP Open Innovation está a tentar contribuir ao acelerar projetos de negócio inovadores no sector da energia. Mais precisamente, dez equipas para se juntarem ao programa de empreendedorismo do Expresso e da EDP — que resulta da união entre o Energia de Portugal e o Prémio EDP Inovação — cujas candidaturas ainda estão abertas para a sétima edição (saiba mais na coluna da página ao lado).
O que significará a palavra energia daqui a dez anos? "O sector energético está em mudança profunda, centrada na sua descarbonização, o que significa uma progressiva redução da dependência dos combustíveis fósseis e uma crescente utilização de biocombustíveis e biomassa mas sobretudo de eletricidade", acredita João Peças Lopes. Para o diretor associado do INESC TEC, "haverá uma gestão integrada de infraestruturas energéticas mercados de gás, mercados de eletricidade, aquecimento e frio, valorização de resíduos, conduzindo a um conceito novo — os sistemas multienergia." Por outro lado,"o sistema elétrico evoluirá para um sistema com forte presença de produção distribuída." As grandes centrais de produção vão coexistir com milhões de microprodutores em que as renováveis terão cada vez mais palavra decisiva. E como estas têm como característica uma "variabilidade temporal significativa", os sistemas de armazenamento de energia permitirão adequar a oferta. Haverá também mais interligações e "será criada uma super-rede em muito alta tensão e em corrente contínua" que permitirá a recolha de energia eólica offshore e "a ligação a grandes instalações de conversão solar fotovoltaica em eletricidade." Com a certeza de que, apesar de haver muito a ganhar, em dez anos não acredita que a "descarbonização avance ao ritmo necessário."
No guardar está o ganho
O armazenamento eficiente é um dos pontos-chaves para o futuro e o engenheiro Artur Patuleia considera mesmo que "é essencial para a mobilidade elétrica e flexibilidade dos sistemas elétricos." O desenvolvimento desta tecnologia vai reduzir "a procura e o investimento em soluções com base em fontes fósseis." Entre as grandes tendências que vão marcar o futuro próximo, Artur destaca também "o surgimento de comunidades locais de energia" que vão ser atores fundamentais dos novos mercados energéticos, ao passo que "a redução do preço dos painéis e das baterias permitirá melhorar progressivamente o retorno do investimento deste tipo de soluções por parte das famílias." Portugal é um dos dezassete países europeus que já se comprometeram a encerrar as suas centrais a carvão até 2030 e o antigo consultor de política energética do Governo acredita que, além do eólico em alto-mar, é importante acompanhar a "evolução tecnológica da energia das ondas", campos onde Portugal tem muito potencial.
Vencedora do Prémio REN 2017, com uma forma inovadora de monitorizar o sistema elétrico de energia ("Imaginemos um robô que capta sinais luminosos e acústicos para se orientar e que tem de combinar esses sinais para formar um mapa interno "), a investigadora Bruna Tavares aponta para um horizonte com maior "incerteza dos fluxos de potência" resultante do uso mais generalizado de veículos elétricos e do carregamento de baterias, por exemplo. Algo que vai obrigar a desenvolver métodos como este para garantir a integridade de redes inteligentes mais sofisticadas. "Só assim será possível operar o sistema", garante.
"Pequenos atores como as startups irão encontrar formas criativas de dar utilidade a todos estes dados", defende Manuel Tânger, responsável pelo programa Free Electrons (que junta empresas promissoras da energia a grandes operadoras). Para o cofundador da Beta-i, além da própria energia, um dos principais negócios do sector será "informar os clientes sobre os seus hábitos de consumo e daí extrair muita utilidade, que será também injetada na cadeia de valor." Inclusivamente prevê um futuro em que "as empresas energéticas poderão ganhar dinheiro a otimizar o consumo dos clientes, numa espécie de consultoria." Ou seja, vão cada vez mais procurar "o futuro nos serviços que rodeiam a energia." Caso para dizer que o futuro dos próximos dez anos já se encontra à mão de semear. Só é preciso saber onde encontrá-lo.
COMO SERÁ EM 2030
627
mil milhões de euros
é o investimento total previsto
na Europa em nova capacidade
de produção de energia elétrica
até 2030
32%
é a meta da União Europeia para
a incorporação de renováveis no consumo final de energia para 2030
28%
dos carros vendidos em 2030 podem ser elétricos, quando se prevê que em 2020 a quota seja ainda apenas 3%
COMO ELES OLHAM PARA O FUTURO DO SECTOR
Quatro figuras da área energética em Portugal deixam a sua visão sobre o panorama que poderemos encontrar daqui a dez anos. Entre eletrificação e novas tecnologias o olhar é positivo
O futuro é elétrico
ANTÓNIO MEXIA
CEO da EDP
O sistema elétrico do futuro será muito diferente daquilo que é hoje. A mudança exponencial chegou ao nosso sector. Na ultima década o sector elétrico mudou mais do que nos 50 anos anteriores e, nos próximos anos, a mudança será ainda muito mais expressiva. Vivemos numa era de "transição energética" onde a revolução será feita essencialmente em três dimensões: descarbonização, descentralização e digitalização. E tudo isto com o cliente cada vez mais no centro. A EDP soube antecipar e tem liderado neste caminho.
A descarbonização vai exigir a eletrificação dos consumos, a todos os níveis, num planeta em que mais de mil milhões de pessoas ainda vivem sem eletricidade e as alterações climáticas são inegáveis. Do modo como habitamos as nossas casas à forma como nos movemos, o futuro será elétrico — e cada vez mais alimentado por energias renováveis.
A descentralização, da produção, armazenamento e eficiência, que decorre dos avanços extraordinários da tecnologia, terá um impacto notável na redução de preços. Neste contexto será possível criar um sistema totalmente eletrificado e resiliente, em que o cliente passa de mero consumidor para produtor e gestor da sua energia.
A digitalização, que tem tido fortes implicações em todos os sectores e que tem criado disrupções profundas nos modelos de negócio mais tradicionais, é a peça que ligará todos estes componentes, permitindo mais eficiência quer do lado da oferta quer da procura. Caminhamos, assim, para uma internet da energia, em que tudo estará ligado e à distância de um clique.
Por último, dado a energia estar no centro de tudo, as escolhas devem ser tomadas coletivamente e a sociedade irá continuar a exigir-nos total transparência na forma como atuamos. O sector da energia terá um papel cada vez mais crucial no desenvolvimento de uma sociedade justa e equilibrada, sendo certo que só o conseguirá num contexto de estabilidade.
Energia, um sector em transformação
CARLOS GOMES DA SILVA
CEO da Galp Energia
Nas próximas décadas o crescimento económico mundial deverá prosseguir a sua trajetória ascendente, principalmente nos países em desenvolvimento em resultado do crescimento demográfico e da melhoria das condições de vida. Como exemplo e segundo a Agência Internacional de Energia, existem hoje 1,2 mil milhões de pessoas sem acesso a eletricidade, com consequências diretas na qualidade e esperança de vida. Em paralelo, temos o desígnio civilizacional de promover a transição para uma economia com menor conteúdo carbónico e menor intensidade energética. Como conciliar esta aparente contradição entre o aumento das necessidades de energia e a redução das emissões de carbono? A concorrência entre diferentes fontes de energia e tecnologias, que deve ser protegida enquanto bem comum, tem permitido ganhos de eficiência essenciais para o sucesso desta missão, contribuindo para que as regiões em desenvolvimento possam seguir um modelo mais sustentável. Os novos padrões de consumo têm promovido a eletrificação, o que exige o recurso a fontes renováveis de energia para minimizar o impacto ambiental. No entanto, sem soluções competitivas de armazenagem, o gás natural é determinante na segurança de abastecimento e na redução da intensidade carbónica, ao substituir o carvão. Na mobilidade, a eletrificação permitirá reduzir alguma procura mundial de petróleo, enquanto outras soluções tecnológicas, como o hidrogénio e os combustíveis sintéticos, não atingem a maturidade para serem uma real alternativa. Acresce a necessidade de manter uma abordagem holística da energia, promovendo a competitividade por mérito na perspetiva de ciclo integral de vida das fontes energéticas. Olhando apenas para parte da cadeia de valor, seja na geração, no consumo ou no quadro regulatório, não estaremos a contribuir para a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável que conjugue ambiente, prosperidade e coesão social e territorial. Em suma, assistiremos à progressiva materialização destas mudanças, espalhadas pelo mundo com diferentes matizes e intensidades, e seremos surpreendidos por outras que não antevemos. O sucesso enquanto sociedade dependerá em muito da nossa capacidade de adaptação permanente à mudança.
O nosso "bom problema"
PEDRO OLIVEIRA
Presidente da BP Portugal
Enquanto humanidade, temos de resolver um dos maiores desafios da nossa existência. Nos próximos 25 anos veremos 2.5 mil milhões de pessoas resgatadas da pobreza a nível mundial o que é uma excelente notícia. O produto bruto do mundo crescerá cerca de 50% e fruto de uma utilização mais racional, ainda assim, as necessidades de energia crescerão 30%. O parque automóvel do mundo duplicará, passando dos atuais mil milhões de veículos para cerca de dois mil milhões de veículos, parte destes naturalmente com tipologias diferentes das atuais. A indústria consome cerca de 40% da energia produzida no mundo, os edifícios 35% e a mobilidade no seu todo cerca de 25%, sendo que destes últimos 'apenas' um quinto, está subjacente à mobilidade particular, respondendo esta por aproximadamente 5% das emissões a nível global. Algumas latitudes destes números podem ser marginalmente discutidas, o que não é certamente discutível é a materialidade dos mesmos, assim como o respetivo impacto na construção de uma agenda energética pensada e sustentável para o mundo, de modo a conseguirmos atingir a imperativa redução de emissões.
Ficam muito claras quando colocamos os números em perspetiva, as necessidades energéticas que decorrem dos mesmos, assim como a origem das emissões. É impossível resolver este 'bom problema' atuando ou promovendo apenas uma variável da equação. Por muito que nos custe acreditar, o futuro sustentável da energia e por isso da nossa existência e bem-estar, far-se-á imperativamente atuando sobre todas as fontes (atuais e futuras), nunca segregando umas em detrimento das outras, mas sendo implacável ao nível da redução de emissões exigidas a todas numa lógica de ciclo de vida total.
Os esforços caberão a cada um de nós
MARIA JOÃO COELHO
Vice-presidente da ADENE — Agência para a Energia
Discutir o futuro do sector da energia significa discutir o futuro da nossa sociedade. O desafio da transição energética passa, não só por este sector, mas também pela transformação da sociedade na nossa forma de estar e de utilizar os recursos. Dada a urgência de descarbonização das economias atuais ainda muito alicerçadas em combustíveis fósseis, a mudança de paradigma tem de acontecer a todas as escalas.
Portugal já iniciou essa transição energética e quer continuar na liderança. Portugal está próximo de alcançar 31,0% de renováveis no consumo de energia, a quinta meta 2020 mais ambiciosa da UE28. Defendemos também ambição para a meta 2030. Sendo Portugal o país da Europa com maior radiação solar, a nossa aposta passará pela energia solar. Preços da tecnologia altamente competitivos e recurso abundante, tornam esta fonte de energia uma solução capaz de dar continuidade à transição energética, sem onerar os custos da energia. O desenvolvimento de soluções de armazenamento será uma peça chave neste processo de mudança.
A integração no mercado europeu de energia com reforço das interligações que permita a livre circulação de eletricidade é fundamental face ao nosso potencial em fornecer energia renovável e competitiva ao mercado europeu. Atuar nos sectores com elevada dependência energética do exterior, como é o caso do sector dos Transportes, parece-nos incontornável, com impacto muito positivo nas emissões e na redução das importações.
Um dos desafios maiores será ao nível da eficiência energética, cujos esforços caberão a cada um de nós, cidadão consumidor de energia, empresa ou instituição. Um caminho de sucesso rumo à transição energética passará sem dúvida pela digitalização do sector e pelo foco no consumidor enquanto agente no mercado. Um consumidor mais informado representa um consumidor mais ativo com melhores escolhas; é um consumidor mais confiante que tenderá a atuar mais sobre si e sobre a sociedade para efetuar as necessárias mudanças e alcançarmos todos o desafio da transição energética e da neutralidade carbónica.
OPEN INNOVATION É...
Empreendedorismo: O EDP Open Innovation é um programa de aceleração de startups que junta a EDP e o Expresso. É para empresas que já têm um projeto inovador — capaz de resolver um problema ou suprir uma necessidade no sector da energia — e pretendam evoluir para o êxito empresarial no mercado (global) depois da maturação no programa. Aceitam-se projetos de todo o mundo e nacionalidades, desde que submetidas a partir de três países: Portugal, Brasil e Espanha.
€50
mil é o valor do prémio
para a equipa que o júri considerar ter o melhor projeto de negócio, valor
a juntar aos €305 mil
que o programa resultante da união entre o Energia
de Portugal e o Prémio
EDP Inovação já distribuiu
ao longo das seis edições.
As três melhores
equipas ganham ainda
um bilhete para
a Web Summit 2018
As inscrições encerram a 10 de setembro. Em finais de outubro, após a aceleração, acontece o investment pitch. Saiba os requisitos e preencha o formulário de candidatura AQUI.
ACELERAÇÃO
O programa exige a presença, em Lisboa, das 10 equipas finalistas durante duas semanas em outubro (com deslocação e alojamento financiados). A aceleração será organizada pela Beta-i
DO QUE ESTAMOS
À PROCURA
Energia: nesta sétima edição procuram-se projetos inovadores de energia limpa, redes inteligentes, armazenamento de energia, inovação digital e soluções focadas nos clientes que queiram atingir o próximo nível e possam fazer a diferença. É necessário apresentar uma equipa no mínimo de dois elementos e em que cada membro tenha, pelo menos 18 anos. Serão pré-selecionadas 30 equipas. Após uma fase de videoentrevistas, a lista será reduzida a 10 finalistas.
Atenciosamente
Alexandre Kellermann
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