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sábado, 10 de novembro de 2018

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09.11.18
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São Paulo – Para presidente da associação, o país já está atrasado na adoção desse mecanismo de contratação de energia
Divulgação
Tiago Reis, para o Procel Info
São Paulo – O setor de eficiência energética passa por um momento de grande expectativa. A possibilidade da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) iniciar os leilões de eficiência energética movimenta os principais agentes que atuam nesta área. Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Alexandre Moana, o momento ideal para esses leilões é agora. "E o momento para a realização desses leilões é já! Ou melhor, já está começando atrasado", disse Moana em entrevista ao Procel Info.

Na conversa, Moana afirmou que a implementação dos leilões mostra que a eficiência energética pode ser considerada como uma fonte real de energia. Ele destacou que as empresas que atuam no setor já estão preparadas para essa nova oportunidade e defendeu que, com o adiamento do leilão que estava previsto para o estado de Roraima, esse certame pode ser implementado imediatamente em outras regiões do país.

O presidente da Abesco também falou sobre o protagonismo que a eficiência energética vai ganhar com o processo de eletrificação dos meios de transporte e também avaliou a 15ª Edição do Congresso Brasileiro de Eficiência Energética (Cobee), principal evento do setor de eficiência energética do país, que foi realizado no final do mês de agosto, em São Paulo.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Procel Info: Qual a sua avaliação sobre a 15ª Edição do Congresso Brasileiro de Eficiência Energética (Cobee)?

Alexandre Moana: Este ano o Cobee nos surpreendeu positivamente. O número de inscrições aumentou para o evento e o número de assuntos abordados foi mais denso. Por exemplo, a participação da Aneel, da própria Eletrobras, da EPE e outros agentes mostraram as várias mudanças que se passam pelo setor. A principal delas é esse novo mecanismo de eficiência, que são os leilões de eficiência energética. O congresso mostrou que a energia eficientizada passou finalmente a ser vista como uma energia nova. Tanto é que o mecanismo do leilão é o mesmo mecanismo que se usa para comprar energia de matrizes como termelétricas, hidrelétricas, as outras fontes. A eficiência energética é vista agora como uma fonte de energia real.

Procel Info: Então podemos dizer que a expectativa sobre a realização dos leilões de eficiência energética foi o ponto alto do Cobee 2018?

Alexandre Moana: Com certeza. Se formos falar sobre o grande atrativo do Cobee 2018, podemos dizer que foram os leilões de eficiência energética certamente. Também podemos destacar que a consideração da eficiência energética como energia nova no sistema e a chegada da inteligência artificial no setor de energia proporcionaram grandes discussões no Cobee. Assim, como se fala hoje da Indústria 4.0, agora também se fala do sistema de distribuição 4.0, e a mobilidade elétrica, que também foi destaque no evento. Então, a chegada de novas matrizes e da mobilidade elétrica vão fazer com que o setor tenha que ganhar uma inteligência para poder administrar toda essa sequência de mudanças, principalmente na distribuição. A distribuição saiu de uma zona de conforto, de todos esses anos, para ter que enfrentar uma possibilidade de vulto como o sistema fotovoltaico distribuído nas residências. Olha que mudança radical. Eu diria que o leilão era o slogan principal, mas a inserção da geração distribuída e da mobilidade elétrica fizeram com que tudo isso culminasse em inserir inteligência no sistema para ele funcionar. Ou seja, o Smart Grid tornou-se essencial para a operação.
'Com leilão, a eficiência energética passa a ser vista de fato como uma fonte real de energia'

Procel Info: Ainda sobre os leilões, ainda existe uma dúvida sobre se esse modelo de leilão de eficiência energética é viável no momento, no curto prazo, para adoção no Brasil. Durante os debates, qual a conclusão que os participantes chegaram? É o momento de se iniciar esses leilões no Brasil?

Alexandre Moana: O momento é agora! O Brasil realizou uma intensa pesquisa sobre as metodologias utilizadas em outros países e essa pesquisa foi feita de forma bastante exaustiva. Então, para chegarmos ao nosso modelo de leilão é porque ele passou por todos os estágios. Então, ele começa com uma estrutura muito madura. E o momento para a realização desses leilões é já! Ou melhor, já está começando atrasado. O que eu coloco em dúvida, e acredito que também seja uma dúvida dos eventuais participantes, é a questão envolvendo a crise migratória de venezuelanos entrando no estado de Roraima. Então, eu diria que a dúvida não é em questão à maturidade ou a precisão do modelo do leilão, mas em relação a localização desse leilão. Talvez se ele fosse aplicado já em outras regiões, ele já pudesse iniciar com o pé direito. Assim, a questão da instabilidade atual de Roraima é que tem causado essa insegurança sobre a realização de um leilão para já. Eu diria que, diante do cenário encontrado em Roraima, ele deveria ter sido aplicado em outras localidades do país.

Procel Info: E por falar em outras localidades, quais outras regiões do país poderiam receber os leilões de eficiência energética hoje?

Alexandre Moana: Eu acho que poderia ser liberado para todas as áreas de concessão. Não tem porque uma região ser excluída. Deveria agora ser liberado para todas as regiões. Até para ser um bom experimento.

Procel Info: Com a chamada "Revolução Elétrica" a eficiência energética ganha cada vez mais protagonismo. Com mais veículos elétricos em funcionamento, maior a demanda por energia elétrica. Na sua opinião, com o avanço, principalmente da mobilidade elétrica, a eficiência energética vai ganhar cada vez mais protagonismo no Brasil?

Alexandre Moana: A eficiência energética e a inserção da inteligência nos sistema elétricos vão ganhar cada vez mais espaço. Imagina a potência desprendida no carregamento de uma série de veículos que vão surgir? E o motivo da existência da mobilidade elétrica vai além das questões de eficiência energética. Ela vai atacar diretamente a questão ambiental, já que a poluição é praticamente zero. Eu e minha família saímos da grande metrópole, nos mudando da grande São Paulo, e o motivo principal dessa saída foi a poluição do ar para as minhas crianças. Quem está acompanhando de perto, sabe que a mobilidade elétrica é uma questão tanto de saúde humana quanto de eficiência no sistema de energia. A questão ambiental faz com que a mobilidade elétrica seja cada vez mais urgente. Assim, estamos vendo números com previsões de substituição de veículos movidos por combustíveis fósseis nos países mais desenvolvidos, sendo que já existem países que em 2020 já vão proibir a fabricação de carros a combustão externa. Essa é uma questão urgente, que vai além da energia e da eficiência energética. Vai direto na saúde da população.

Procel Info: Como o setor de eficiência energética está avaliando as oportunidades neste momento em que os reajustes das tarifas da energia elétrica estão superando os 20% e a Bandeira Tarifária está na cor Vermelha?

Alexandre Moana: Nós temos hoje um IPCA extremamente reduzido, falando em uma taxa de inflação em torno de 4,0% a 4,5%, e aumentos na área de distribuição de 20% ou mais. São números que chocam. Imagina isso, como nós trabalhamos numa relação custo benefício, a redução ou maximização do benefício, começa a saltar aos olhos. Então, num cenário de energia elétrica cara, faz com que a eficiência energética torne-se cada vez mais essencial do que já é.

Procel Info: Acabamos de passar por um processo eleitoral. Analisando as propostas dos candidatos à Presidência da República, pouquíssimo se fala em eficiência energética. Na sua opinião, por qual motivo o tema eficiência energética, mesmo neste cenário de baixa nos reservatórios e energia cara, não entrou na agenda dos programas de governo dos presidenciáveis?

Alexandre Moana: Muito provavelmente, o pouco de eficiência energética que foi tratado nos programas de governo tem a ver com a inserção da energia solar fotovoltaica no sistema. Eu diria que o fotovoltaico, como é materializável, existe um produto, existe alguma coisa que é palpável, ele passa a ser mais facilmente apreciado. A eficiência energética é algo que precisa de estudo e de conhecimento para entender o mecanismo dela. Desta forma, eu acho que os candidatos não abordam esse tema como algo de importância extrema, por ser uma matéria complexa e de difícil transmissão para o eleitor. Eu diria que a abordagem da eficiência energética durante a campanha política é uma coisa complicada e de difícil compreensão, mesmo ela sendo a melhor atividade para o setor de energia nacional. Apesar de ser a energia mais barata, a energia mais limpa, apesar dela ser a melhor de todas as energias, ela é a mais difícil de entender e a mais difícil de transmitir para o eleitor. Eu acho que esse é o motivo pelo qual não observamos os candidatos falando muito sobre ela. E a ausência desse tema no debate nacional, faz com que o consumidor fique com o ônus do pagamento do custo tarifário e ambiental pela geração de energia por meio das térmicas caras e poluentes.
Alexandre Sedlacek Moana é engenheiro e mestre em engenharia da energia pela Universidade Federal de Itajubá (MG). O profissional tem mais de 20 anos de experiência no setor de eficiência energética. Em 2016 foi eleito para o primeiro mandato como presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), sendo recondizido, em 2017, para novo mandato de dois anos.


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