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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Motores recondicionados irregularmente geram desperdício

Estudo realizado pelo Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio) e encomendado pelo GT Eficiência Energética de Motores Elétricos Trifásicos da Abinee, com apoio da International Copper Association Brazil (ICA/Procobre), avaliou o impacto energético da comercialização de motores industriais recondicionados indevidamente no país.

 

Segundo resultados mais conservadores e otimistas, a venda de motores usados e recondicionados de forma irregular é responsável por uma perda de energia de, no mínimo, 7,1 milhões de MWh, o equivalente ao que a usina nuclear de Angra 2 ou a usina hidroelétrica de Porto Primavera produzem por ano.

 

Os estudos revelam ainda que, diante do atual cenário de crise energética, se houvesse uma fiscalização por parte do governo e esse valor não fosse desperdiçado, o país só teria a ganhar: evitaria o uso de térmicas a diesel, diminuindo a importação deste combustível - consequentemente, equilibrando a balança de pagamento - e, por outro lado, evitaria a queima deste produto, que libera uma das maiores taxas de CO 2 na atmosfera, um dos vilões do efeito estufa.

 

Os motores elétricos trifásicos são responsáveis por cerca de 25% de toda a energia elétrica consumida no Brasil e estão presentes em máquinas operatrizes, tornos industriais, prensas, esteiras rolantes, fresadoras, injetoras, calandras, pontes rolantes, bombas de grande porte, compressores industriais, serras industriais, entre tantas outras máquinas presentes na indústria.

 

Estes motores são regulamentados pela Portaria Inmetro/MDIC Nº 488, de 08/12/2010, garantindo o atendimento aos índices mínimos de eficiência energética e um gasto energético adequado ao país.

 

No entanto, estabelecimentos comerciais recondicionam motores industriais sem condições de uso, muitas vezes adquiridos como sucata, e que nunca deveriam voltar ao mercado por não atenderem aos níveis mínimos da Portaria Inmetro. “À primeira vista, com um preço mais barato, o consumidor parece estar fazendo um bom negócio, mas, na verdade, a maioria destes motores já está obsoleta devido à sua idade. Eles apresentam vida útil muito curta e o mais grave: uma eficiência comprometida que representa um gasto de eletricidade excessivo, muito acima do consumo energético dos motores regulamentados”, revela o professor responsável pelo estudo, Reinaldo Castro Souza, do Departamento de Engenharia Elétrica do CTC/Puc-Rio.

 

Os resultados reforçam, ainda, que o uso de motores recondicionados de forma irregular é responsável por 2,8% da emissão, no Brasil, de Gases de Efeito Estufa (GEE) liberados na atmosfera.

 

Para chegar ao total desperdiçado, Castro Souza e sua equipe tiraram um raio-X do mercado brasileiro de motores, conseguindo estimar a fatia de mercado de venda de motores recondicionados, criar uma metodologia de trabalho para o recondicionamento destes motores nestes estabelecimentos, classificá-los e avaliar o impacto da perda energética para o país.

 

Nos últimos seis meses, a partir de uma seleção prévia, cerca de 40 estabelecimentos comerciais de Norte a Sul do Brasil foram avaliados de acordo com os requisitos básicos para a prestação do serviço: técnicos capacitados, equipamentos, procedimentos e ferramentas adequados, e também as características destes motores recondicionados colocados à venda. Essa etapa levou à criação de uma metodologia a ser seguida e, consequentemente, a uma classificação destes estabelecimentos.

 

Na etapa seguinte, foi avaliada a perda de eficiência dos motores recondicionados. Os estabelecimentos de melhor classificação apresentaram um índice de 1%, o que é considera do a perda natural de um motor nestas condições. As de pior classificação chegaram a 3% de perdas, revelando o desperdício de energia elétrica que estes motores podem gerar. Considerando o cenário mais conservador, os estudos chegaram a uma perda de 8,7% do que é consumido de energia elétrica no país, totalizando 7,1 milhões de MWh para o ano de 2012.

 

De acordo com os estudos, hoje há 1.837 estabelecimentos atuantes neste segmento no país que comercializam, em média, cada um, 83 motores recondicionados/mês, chegando a um total de cerca de 1 milhão e 830 mil motores vendidos ao ano, representando 65% do mercado no Brasil. Tendo como parâmetro o total de energia consumida no país, esses motores recondicionados consomem 16% da energia elétrica brasileira.

 

Com estes resultados, o professor Reinaldo Castro Souza reforça: “Diante da gravidade da situação que o governo enfrenta hoje para abastecer o país, o estudo se torna ainda mais relevante. É preciso fiscalizar e evitar a venda de motores que desperdiçam algo tão valioso e essencial agora e no futuro. Se o governo der atenção especial a esta questão, poderemos evitar o uso de termelétricas movidas a carvão, reduzir o valor da conta de energia elétrica paga por nós, além de reduzir, de imediato, os valores de investimento necessários à construção de novas usinas geradoras de energia elétrica. Nosso propósito é colaborar neste sentido”.

http://www.monitormercantil.com.br/index.php?pagina=Noticias&Noticia=153860&Categoria=EMPRESAS

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