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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Belo Monte: Brasil tem enorme potencial hídrico

RIO - O Brasil não explora nem a metade de seu potencial hídrico nacional, dizem especialistas, que garantem que os benefícios de uma hidrelétrica superam muito os de qualquer outra geradora de energia. Há quem conteste o formato do projeto de Belo Monte, mas todos concordam que a usina é essencial para garantir o desenvolvimento econômico do país.

– O crescimento da demanda por energia elétrica da população é superior à expansão da oferta, por isso a construção desta hidrelétrica é fundamental para o país – destaca o professor da Universidade de Brasília (UnB), Henrique Chaves.

Segundo ele, o país só utiliza 25% do potencial hídrico nacional, fonte de energia até dez vezes mais barata que qualquer outra. “A construção da usina irá beneficiar todos os estados com o sistema interligado”, destaca Chaves.

Já o coordenador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), Célio Bermann, alerta que é muito elevado o valor para construção de Belo Monte, que pode chegar a R$ 36 bilhões, considerando previsões de custo real e R$ 6 bilhões da renuncia fiscal do governo. Para ele, o custo por megawatts instalado, de R$ 3 mil, é muito alto para garantir o retorno do investimento feito e a demanda da população não precisa desta usina.

– Belo Monte terá capacidade instalada de 11.233,1 MW (megawatts). Para aproveitar melhor a vazão do rio Xingu, poderia ser construída uma usina de um terço do valor e capacidade de 4 mil MW. O menor investimento viabilizaria este projeto – destaca Bermann.

O especialista explica que será preciso construir outras três usinas ao longo do rio para aumentar vazão e a eficiência energética da hidrelétrica. “Com isso, o custo final vai ficar ainda maior”.

O professor da Unicamp Ennio Peres da Silva afirma que o Brasil não tem alternativa para a geração de energia de Belo Monte. Ele ressalta que o fornecimento de energia é necessário para atender o crescimento econômico nacional atual.

– O projeto pode ser adiado, como já foi feito por tantos anos, mas é inevitável a construção desta usina. A energia elétrica é tão vantajosa que não pode deixar de ser aproveitada, em benefício do desenvolvimento nacional – ressalta Silva.

O professora da Unicamp explica que outros países, somente depois de esgotar as fontes hídricas, passaram a usar alternativas como energia eólica e solar. Segundo Silva, os impactos ambientais existem em todas as fontes, mas este projeto prevê compensações para reduzir-los.

– Se existisse outra opção de fonte de menor valor e sem impactos, certamente seria usada, mas ainda não existe. Além disso, nenhum país começar a construir usinas nucleares como fonte principal de energia antes de esgotar a fonte hidráulica – defende.

O Brasil não pode abrir mão da vantagem competitiva natural que tem, afirma Hélder Queiroz, professor do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O preço da energia gerada por hidrelétrica é inferior ao de outras fontes, destaca.

– O custo de deixar de explorar os recursos hídrico é muito alto para o país, que precisa reduzir preços de produção e ser mais competitivo mundialmente – explica Queiroz.

Para o consultor John Forman, ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o projeto precisava ter levado em conta a localização da usina, já que a região é formada por uma série de corredeiras, o que reduz a velocidade da água. “O cálculo deve ser muito preciso. Em regiões com cachoeiras e maior desnível, a pressão da água contribui a geração de energia, isso não vai acontecer em Belo Monte”.


Indústria: usina deve atrair novos empreendimentos

A instalação da hidrelétrica de Belo Monte deve atrair outros empreendimentos para a região, afirma entidade da indústria. O custo mais baixo da energia hidrelétrica aumenta a competitividade nacional, destaca o diretor de Energia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti. Para ele, é preciso manter a matriz energética nacional, que utiliza energia limpa e garante o desenvolvimento do Brasil.

– É bom para o país continuar investindo em hidrelétricas, já que é muito alto o custo exploração de outras fontes. E tornaria inviável a produção nacional – ressalta o diretor da Fiesp.

Cavalcanti explica que, para o desenvolvimento do país, é preciso usar as riquezas minerais combinadas com energia para aumentar o valor agregado de produtos nacionais.

– Tem que avaliar o que é melhor para o país e não só os impactos para a região. Energia é um insumo fundamental para a indústria – destaca Cavalcanti.

A proximidade de uma hidrelétrica facilita a utilização de linhas de alta tensão que são fundamentais para fábricas de grande porte, avalia José de Freitas Mascarenhas, presidente do conselho de infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

– O impacto da usina é, sem dúvida, o desenvolvimento da região e de toda a população. Com o aumento de empregos e a melhoria da qualidade de vida – defende Mascarenhas.


Pinguelli defende opção por hidrelétricas

O diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, defende que o suprimento de energia para o desenvolvimento do país passe “necessariamente” pela construção de novas usinas hidrelétricas.

– O fato é que o desenvolvimento do país e o suprimento energético necessário passa necessariamente pela construção de novas hidrelétricas. É claro que sempre há impactos ambientais numa obra desse porte – disse Pinguelli Rosa.

Na avaliação do ex-presidente da Eletrobras, houve, no entanto, “uma certa falta de competência” do governo federal na construção de um pacto em torno da necessidade da construção da hidrelétrica de Belo Monte. Duas subsidiárias da Eletrobras disputaram a licitação para a construção da Usina de Belo Monte.

– Houve uma certa falta de competência do governo em fazer um pacto com os grupos e movimentos sociais e ambientais. Há a questão das terras indígenas, um complicador. Havia e há a necessidade de se chegar a um acordo com eles. As condições de vida na região são muito precárias em geral, e tem muito que se fazer. Isto também não foi bem resolvido. A princípio, eu sou a favor (da construção de Belo Monte), mas com essa ressalva – disse o especialista.

Luiz Pinguelli Rosa disse que também concorda com as posições defendidas pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, e pelos últimos dois ministros de Minas e Energia (Silas Roundeau e Edison Lobão), de que o país tem que optar por qual tipo de energia prefere na continuidade do seu modelo energético: as hidrelétricas (com menos impacto ambiental e proveniente de uma fonte mais limpa, a água), ou as usinas termoelétricas, movidas por fontes não tão limpas que, em geral utilizam combustível fóssil, como o carvão e o óleo combustível.

– Se você não tiver as hidrelétricas, outras usinas, utilizando outras fontes, serão feitas. E pelo andar da carruagem, tenderão majoritariamente ser usinas termelétricas, a partir do carvão, do gás, do óleo combustível. O fato é que esse impasse ambiental tem levado a um crescimento grande da participação do combustível fóssil na nossa matriz energética – disse o especialista.

Segundo Pinguelli Rosa, é “uma utopia” pensar que é possível atender ao crescimento da economia brasileira a partir do aumento da oferta de energias alternativas – como a eólica e a solar.

– É muito difícil que isso possa ocorrer. Elas podem ter uma participação, um papel maior do que tem hoje, mas nunca cobrirão toda a oferta de geração que propiciará Belo Monte, por exemplo. Seria impossível.

Para Pinguelli, porém, o governo tem a obrigação de respeitar e ouvir os ambientalistas.

– Acho que os ambientalistas devem ser respeitados. Acho que o governo deve responder a todas as perguntas e questionamentos deles, mas eu não vejo, a princípio, um impedimento maior em fazer essa usina (de Belo Monte). Ela não inunda muito. O problema é, inclusive, o contrário: a redução da água em grande parte do Rio Xingu. Mas isso pode ser evitado com condições restritivas na operacionalização da usina. Então, há solução.

.22:12 - 20/04/2010
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/04/20/e20045946.asp

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